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MP fixa prazo e Copasa tem até julho para pôr fim ao martírio da ETE

Quem acompanha os fatos mais importantes da região já se acostumou a ler, nas páginas do Jornal CORREIO, o drama vivido pelos moradores da região da Barreira, mais especificamente, no Satélite. Inaugurada com pompa e cerimônia em 23 de janeiro de 2010, a ETE Bananeiras foi apresentada como a solução para a poluição das águas do ribeirão Bananeiras. O que muita gente não sabia é que o começo do sonho de águas mais límpidas no principal rio da região seria também o início de um longo pesadelo para os vizinhos da estação: o investimento, de quase R$15 milhões, não foi capaz de evitar a geração de um gás que estaria causando muitos transtornos aos moradores, que vão desde desconfortos e dores de cabeça à desvalorização das propriedades.

Desde então, uma verdadeira batalha de abaixo-assinados, reuniões, pedidos e manifestações tem feito parte da realidade de centenas de pessoas como Elza Martins Rodrigues. Depois de 20 anos, ela pensa em deixar a sua casa, na rua Sebastiana Rezende: “A gente não se sente bem. Ainda mais quem tem problemas de pressão. Essa ETE acabou com a gente”, lamenta. Francisco Antonio Filho sente na pele os problemas gerados pela ETE e tem acompanhado de perto as tentativas para solucionar o problema: “Participei da reunião entre a Copasa, o promotor e a comunidade, mas, até hoje, nada mudou. Tenho bronquite, sinto sufocamento e preciso de uma solução definitiva. O cheiro é tão forte que não temos prazer nem de comer. A gente não consegue mais esperar por uma solução”, afirma.

Valdete Giselia de Menezes, moradora da rua Carmelita Santiago Lana, também se engajou nas iniciativas da comunidade para resolver os problemas, mas afirma que se sente de mãos atadas diante do sofrimento que a ETE estaria causando à sua família: “Já fizemos vários abaixo-assinados, já houve reuniões na Prefeitura, Copasa e não se resolve nada. Minha neta, de 9 meses, teve que ir parar no Pronto Socorro, porque estava com febre de 38,5. Tudo por causa da alergia, do mau-cheiro. Minha outra neta, de 7 anos, tem bronquite alérgica. Eu levanto às 4h da manhã todos os dias e já acordo com esse cheiro terrível. Parece que esse gás se infiltra no nariz e dá muita dor de cabeça. Cheira à amônia. Ninguém se alimenta direito. Ainda mais na época de calor. É sufocante. É constrangedor”.

Morador da rua Sebastiana Rezende há 25 anos, José Euzébio Mapa conhece bem o problema: “A ETE nos prejudica muito. Ninguém come ou dorme em paz. Em época de calor, a situação é pior ainda. As crianças passam mal, a ponto de ir parar no Pronto Socorro. Já foi feito abaixo assinado mas, infelizmente, até hoje ninguém fez nada”. Antonilda das Chagas dos Santos Silva sente saudade da época em que se mudou para a rua Carmelita Santiago Lana, há 45 anos: “Aqui era uma paz; não tinha esse ‘fedozão’. Passado um tempo, veio essa ETE. Disseram que era para nosso benefício. Mas só se foi para o benefício da Copasa, porque, para nós, não foi não. O prefeito veio aqui, fez mil e uma propostas, mas não resolveu nada. Ninguém suporta mais esse gás. Ele resseca a boca e dá uma dor de cabeça muito forte. Minhas crianças estão sempre reclamando”, revela.

Copasa aguarda verba para solucionar o problema
Em nota, a Copasa confirmou que a formação de alguns gases durante o processo de tratamento do esgoto gerou odor e afirmou que a empresa contratou um especialista em tratamento de esgoto, que elaborou o diagnóstico da ETE Bananeiras, com recomendações para a solução. “Durante este período, foi realizado o aprimoramento dos procedimentos operacionais, sendo feitos os ajustes necessários, bem como a cobertura das unidades, adequação de filtros biológicos e dos decantadores, além da implantação de mais seis leitos de secagem de lodo, medidas que já possibilitaram a redução do cheiro. De posse do diagnóstico emitido pelo especialista contratado, a Copasa, por meio de sua equipe técnica, detalhou as ações a serem implementadas e os valores de investimentos necessários. Atualmente, a empresa está definindo fonte de recursos e preparando a licitação dos serviços a serem realizados para combater o odor gerado pelo processo de tratamento”, detalha.

MP define prazo limite para empresa evitar sanções da Justiça
Mas a concessionária terá que correr contra o tempo para dar fim ao martírio da Barreira. Ouvido pelo Jornal CORREIO, o promotor Glauco Peregrino, que tem acompanhado o problema de perto, confirmou a contratação, por parte da Copasa, de um perito em estações de tratamento. De acordo com o representante do Ministério Público, o especialista definiu uma série de obras a serem executadas na ETE, principalmente quanto à vedação de estruturas dos reatores, para que o problema do odor seja definitivamente resolvido. No entanto, caso a empresa não solucione os problemas dentro do prazo, sofrerá sanções legais: “Ficou fixado o prazo até junho deste ano para que estas medidas sejam integralmente executadas e o problema, definitivamente resolvido. O Ministério Público tem consciência de que outras medidas já foram anteriormente tomadas sem o resultado esperado pela população. Por isso, a empresa já foi alertada de que, caso o problema não seja realmente solucionado até o prazo convencionado, o Ministério Público irá judicializar a questão, inclusive com pedido de indenização pelos transtornos causados à coletividade lafaietense, que tem sofrido com a questão”, detalhou Peregrino.

Investimento de R$15 milhões
Na época da inauguração, há exatos 4 anos, a Copasa divulgou investimentos de R$ 15 milhões para a construção da Estação de Tratamento de Esgoto do Rio Bananeiras (ETE Bananeiras). A então gerente do Distrito do Alto Paraopeba, Júnia Silveira Martins, informou que a ETE teria, inicialmente, capacidade para tratar 70 litros de esgoto por segundo, podendo, no futuro, dobrar esta capacidade, com a ampliação das instalações, o que atenderia a ás necessidades da população residente na bacia do Ribeirão Bananeiras até o ano de 2037. A inauguração contou, inclusive, com a presença do então governador Aécio Neves e seu vice, Antônio Anastasia.
A ETE foi construída para tratar o esgoto coletado e transportado de todas as residências incluídas no sistema de esgotamento sanitário da Copasa ligadas ao ribeirão Bananeiras, o que corresponde a 50% do esgoto produzido pela cidade. O restante, que é dispensado na bacia do ribeirão Ventura Luiz, será abrangido em outra estação, que ainda deve ser construída futuramente, a ETE Ventura Luiz. A nova estação, no entanto, ainda não saiu do papel, entre outros motivos, pela demora na renovação da concessão dos serviços municipais à Copasa.
Entre os ganhos obtidos com a implantação da ETE estão a revitalização do Ribeirão Bananeiras e seus afluentes; diminuição da presença de animais como ratos, baratas e escorpiões; controle e prevenção de doenças e mais saúde e qualidade de vida para a população.

Entenda como é feito o tratamento de esgoto
Um sistema convencional de coleta e tratamento de esgoto doméstico começa com o recolhimento e o transporte dos esgotos, através de redes coletoras, interceptoras e emissários até a ETE. No processo mais usual, o esgoto entra na estação e passa, preliminarmente, por uma grade que retém todo material grosseiro, como latas e plásticos. Depois, a areia e outros sólidos sedimentam-se e também são retirados nos desarenadores. Em seguida, o esgoto é enviado para os reatores, onde há um tratamento biológico. Após um período de fermentação, as bactérias presentes no esgoto alimentam-se da matéria orgânica, transformando-a em compostos inorgânicos e provocando a formação de um lodo. É nesse lodo que fica acumulada a maior parte dos resíduos do tratamento. Então, ele é retirado, secado e levado para um aterro sanitário. O líquido que sobra já está tratado e pode ser lançado nos rios, ribeirões e lagos sem ameaçar o meio ambiente. A água (o efluente) é devolvida ao ribeirão Bananeiras e o material sólido, retirado durante o tratamento de esgoto é encaminhado para o aterro sanitário, localizado na própria área da ETE.

Fonte: Jornal Correio da Cidade
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