saneamento basico

Redução de perda de água é um desafio a curto prazo

A crise hídrica que vem afetando há mais de um ano grande parte da região Sudeste do país está diretamente ligada às perdas nas redes de distribuição. Boa parte da água tratada, pronta para o consumo, fica no meio do caminho e o Estado de São Paulo, de acordo com o último relatório com dados de 2013 do Snis (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento) – ligado ao Ministério das Cidades – desperdiça, em média, 34,3% do líquido tratado.

Segundo levantamento do Consórcio PCJ (Bacias do Rio Piracicaba, Capivari e Jundiaí), são poucas as cidades que possuem indicadores confiáveis de perda de água de rede. Dos 69 municípios que fazem parte da Bacia PCJ, apenas dois – Campinas e Limeira – possuem instalados macromedidores, equipamentos que são utilizados na medição de água e identificam setores onde há vazamentos.

Portanto, segundo o consórcio, o índice oficial utilizado hoje de 37% é uma estimativa. De acordo com o órgão, a água perdida entre a estação de tratamento e a torneira do consumidor pode chegar a 50%. Até o início de 2016 uma metodologia de cálculo de perdas comum a todas as cidades do PCJ deve ser apresentada. O projeto faz parte de um convênio entre o Consórcio e a Replan (Refinaria de Paulínia) que tem como objetivo padronizar a quantidade de água tratada que é perdida.

Para o pesquisador e professor de recursos recurso hídricos da Faculdade de Engenharia e Arquitetura da Unicamp Antonio Carlos Zuffo, o controle de perdas é um dos pontos essenciais para aumentar a oferta hídrica em todo o país.

“Os investimentos para redução das perdas deveria vir dos comitês das bacias com os recursos da cobrança da captação da água bruta. Porém, hoje não são usados, pois o valor cobrado é irrisório, de R$ 0,01 por metro cúbico”, afirmou o especialista durante o Fórum de Sustentabilidade Hídrica, que reuniu pesquisadores na Unicamp, na semana passada, para o debate da crise da água.

A cobrança implantada em 2005 é uma das principais fontes para sustentar o Plano de Bacias, aprovado em 2013, que tem como proposta melhorar a qualidade e quantidade no abastecimento público. Os investimentos devem ser na ordem de R$ 4,4 bilhões até 2035 e têm como objetivo recuperar 62% dos rios do Brasil. Atualmente apenas 39% deles possuem qualidade para atender a população.

Segundo José Galizia Tundisi, professor do Instituto Internacional de Ecologia e Membro da Academia Brasileira de Ciências, seus estudos apontam uma piora da qualidade da água nos últimos 150 anos, sendo que atualmente é possível identificar mais de 200 mil substâncias orgânicas dissolvidas na água. Portanto, o pesquisador defende a necessidade preservação de bacias e de sua vegetação como uma maneira para diminuir os custos de tratamento da água potável. “Temos que nos adaptar ao clima e uma das maneiras é produzir as chamadas ‘cidades verdes’”, destacou o professor Tndisi.

Entrevista com Antonio Carlos Zuffo, Professor da Unicamp

Antonio Carlos Zuffo, professor do Departamento de Recursos Hídricos da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp, analisa a crise da água.

BOM DIA_ Em época de crise, qual as perspectivas para o futuro com relação ao abastecimento?

Zuffo_ Corremos o risco de enfrentar de um colapso de abastecimento, pois não temos reservatórios suficientes, porque se proibiu a construção de reservatórios de regularização no passado, na legislação de 1987 e 1988. Temos que rever isso e para haver segurança hídrica, precisaremos vamos a construir barragens de regularização. Ela é como se fosse uma poupança em que você guarda para quando houver escassez. Ou seja, se tem um ano muito chuvoso, a barragem de regularização armazena essa água. No período seco, a vazão natural é insuficiente, então você regula com aquilo que foi guardado. Se não houver esse reservatório, quando cai a vazão, já não é possível abastecer a população. Mas se há um reservatório grande, há uma poupança grande e pode-se passar por períodos de adversidades maiores.

Existe alguma previsão para a recuperação do sistema hídrico?

O uso do o uso do volume morto do Sistema Cantareira poderá estender o tempo para recuperação do sistema hídrico, que pode passar de dez anos para se ter a vazão normalizada. O sistema recupera-se de 10% a 20% por ano e, com o gasto da reserva, se a média de chuva ficar baixa, esse percentual reduz e o tempo de recuperação pode ser ainda maior. Porém, a recuperação da segurança hídrica vai depender muito do volume de chuvas e de como os sistemas serão administrados. Obras poderão reduzir o tempo estimado.

Como as pesquisas podem auxiliar no planejamento hídrico?

O planejamento tem que ser feito com informação. Como é possível dimensionar o volume de reservatório, saber o quanto tenho de disponibilidade hídrica, se não possuo dados? Para se fazer obras contra enchentes, é preciso saber qual é a vazão máxima. Para enfrentar o período da seca, é necessário saber qual o tamanho do reservatório para armazenar água. Usualmente isso é feito observando o que aconteceu no ano passado, somado aos modelos de previsão com simulações. Mas existe também uma ciclicidade do clima, de ter períodos mais baixos e mais altos. Nós devemos entrar em um período seco mais prolongado, que vai diminuir a produção. E vamos pagar o preço. Porque esse fenômeno foi descoberto há pouco tempo. Muita gente ainda acredita que a causa é o aquecimento global e não é isso. Nós pegamos o trecho de ascensão, e agora estamos no de recessão. A temperatura vai cair e a precipitação no nosso Estado também vai declinar e aí vamos ter problemas. Todo o planejamento não leva em consideração essa fase cíclica pelo desconhecimento.

Sugestões de uso consciente da água em casa

A crise no abastecimento de água, que afeta diversas cidades brasileiras, tem estimulado a reflexão sobre o uso racional da água e as diversas possibilidades de reaproveitar o líquido nas atividades domésticas.

“Sem dúvida, as novas práticas contribuem para a preservação desse bem essencial à vida, mas é preciso ficar atento e aliar ao hábito do reuso cuidados com a qualidade dessa água, como e onde ela pode ser usada sem colocar a saúde em risco”, alerta o infectologista Artur Timerman.

Segundo ele, em vários locais da casa a água pode ser reaproveitada de forma consciente. Na cozinha, a sugestão é que água do cozimento de um legume, como cenoura, pode ser reaproveitada para cozinhar outros vegetais como batatas ou beterraba e até ovos.

Essa água também pode ser usada para o cozimento de macarrão ou até enriquecer o arroz. Já a água utilizada para lavar os legumes pode ser utilizada para molhar plantas.

Ainda segundo Timerman, outor ponto da casa que há a possibilidade de reaproveitamento da água é a lavanderia. “Lave primeiro as roupas claras e reaproveite a última água da máquina para lavar as roupas escuras. A água da máquina também pode servir para a limpeza da casa e vaso sanitário. Se for lavar a roupa a mão, não esqueça a torneira aberta”, sugere.

Apesar do bom uso da água, o infectologista lembra que deve haver um cuidado redobrado ao armazer o líquido. Os recipientes são locais que podem ser criadouros da larva do mosquito da dengue, inclusive em pequenas quantidades de água.

“Se for armazenar água limpa, além da vedação para evitar os criadouros da dengue, use um copo de 200 ml de água sanitária para 20 litros de água. Mas saiba que essa água não deve ser ingerida. E não se esqueça de higienizar todos os recipientes antes do uso”, explica Timerman.

Opinião

Marco Antonio dos Santos, diretor técnico da Sanasa

Sem regras, crise chegou

Os gestores do sistema, a ANA (Agência Nacional de Águas) e o DAEE (Departamento de Água e Energia Elétrica) não seguiram as regras da curva de aversão de risco, que definem quanto de água se pode tirar do sistema em relação ao volume armazenado. Continuou-se tirando água do mesmo jeito de antes. Então, estamos nessa crise porque faltou respeitar as regras operativas do sistema. E isso é preocupante, pois estudos mostram que a macrometrópole de Campinas, por exemplo, vai precisar aumentar a disponibilidade hídrica em 60 m³/s até 2035 e será difícil conseguir essa água. A Bacia do Alto Tietê precisará de mais 16 m3/s e as Bacias PCJs, de mais 18 m3/s. Temos um plano de contingência, mas na atual situação o racionamento vai depender da demanda.

 

Fonte: Diário de S. Paulo

Últimas Notícias:
Gerenciando Montanhas Lodo

Gerenciando Montanhas de Lodo: O que Pequim Pode Aprender com o Brasil

As lutas do Rio com lodo ilustram graficamente os problemas de água, energia e resíduos interligados que enfrentam as cidades em expansão do mundo, que já possuem mais de metade da humanidade. À medida que essas cidades continuam a crescer, elas gerarão um aumento de 55% na demanda global por água até 2050 e enfatizam a capacidade dos sistemas de gerenciamento de águas residuais.

Leia mais »