Às margens do córrego Bucanhão, a 50 quilômetros de Brasília, os agricultores Jorge Artur Chaves de Oliveira e Terêsa Cristina Moreira Corrêa, encontraram na Fossa Séptica Biodigestora a solução adequada para promover o saneamento básico no Sítio Alegria.
A tecnologia social, simples e de baixo custo, trata o esgoto doméstico e gera biofertilizante, em completa harmonia com os conceitos de práticas sustentáveis adotadas na propriedade.
O sistema de saneamento básico rural, que ainda inclui o Clorador Embrapa e o Jardim Filtrante, em complemento à Fossa Séptica Biodigestora, é umas das soluções que a equipe da Embrapa Instrumentação (São Carlos – SP) vai apresentar na edição virtual da Feira Internacional dos Cerrados, a AgroBrasília, entre os dias 6 e 10 de julho.
Pioneiros na produção de base agroecológica há mais de 30 anos, no Distrito Federal, os produtores rurais utilizam o biofertilzante gerado pela Fossa Séptica Biodigestora para adubar pés de fruteiras –hibiscus, acerola, graviola e framboesa. As plantas são produzidas na propriedade 28,5 hectares, localizada em Área de Proteção Ambiental (APA), em Brazlândia.
“Usamos o adubo orgânico, principalmente no período de seca – de maio a setembro – para irrigar as plantas. Mas também aplicamos o biofertilizante para acelerar a decomposição dos compostos orgânicos. O efluente melhora a produção e diminui os gastos com esterco para adubação”, conta a engenheira agrônoma formada pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e professora aposentada.
“O efluente de esgoto tratado gerado pelo sistema de saneamento básico rural é um biofertilizante que pode substituir a aplicação do nitrogênio sintético na adubação de pequenas lavouras. Além disso, melhora a qualidade do solo e a sustentabilidade dos sistemas agrícolas”, explica o pesquisador da Embrapa Instrumentação, Wilson Tadeu Lopes da Silva.
Área rural entra no marco zero
Com quatro unidades da Fossa Séptica Biodigestora instaladas há 10 anos, beneficiando 18 pessoas que vivem na propriedade atualmente, o Sítio Alegria é uma das 249 localidades do DF que adotaram o sistema para promover o saneamento básico rural e preservar os recursos naturais. A instalação contou com a parceria da Fundação Banco do Brasil, que tem apoiado a Embrapa Instrumentação em projetos de capacitação de multiplicadores em tecnologias de saneamento básico rural.
Com uma população rural de mais de 30 milhões de pessoas, segundo dados de 2014 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), realizada pelo IBGE, o saneamento básico para moradores do campo é muito precário. A grande maioria ainda usa sistemas rudimentares, como fossas negras, valas, buracos, lançam os dejetos em rios ou diretamente no solo a céu aberto.
São sobre os problemas da falta de saneamento na área rural do País, as consequências para a população e para os sistemas de saúde pública que o pesquisador Wilson Tadeu Lopes da Silva e o analista Carlos Renato Marmo vão explicar ao público que acessar a página da AgroBrasília. Por meio de palestra gravada, o pesquisador e o analista ainda vão abordar os benefícios das tecnologias sociais (destinadas ao tratamento da água e do esgoto doméstico) disponíveis para adoção.
A inclusão da área rural em projeto de lei que estabelece o novo marco legal do saneamento básico no país mostra a importância da adoção de tecnologias simples e de baixo custo. A Fossa Séptica Biodigestora, com cerca de 12 mil unidades instaladas nas cinco regiões do país, Clorador Embrapa e Jardim Filtrante são exemplos dessas soluções.
Tecnologias
Enquanto a Fossa Séptica Biodigestora trata o esgoto doméstico, o Clorador Embrapa purifica a água para o consumo e o Jardim Filtrante descontamina a chamada água cinza, proveniente de pias, chuveiros e tanques, permitindo o reuso.
“O esforço da Embrapa para inclusão do âmbito rural no PL 4162/19 é uma conquista para toda a sociedade, não só para quem vive no campo, mas para a população urbana também, beneficiada pelo abastecimento de água que nasce na área rural”, diz o chefe-geral da Embrapa Instrumentação, João de Mendonça Naime.