saneamento basico

Presidente da Fiergs mira mudanças para vencer desafios

Empossado para o segundo mandato à frente da Federação e do Comércio das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs/Ciergs) na sexta-feira, Heitor José Müller tem uma lista extensa de demandas pelas quais lutar na nova gestão, até 2017. Segundo Müller, a indústria está estagnada, com baixo crescimento desde 2007, situação que leva os empresários ao baixo otimismo. A manutenção dos empregos é um dos primeiros efeitos projetado caso as indústrias continuem perdendo competitividade. Alterar esse cenário depende de mudanças pontuais, mas decididas com celeridade e mantendo perspectivas perenes. Ele defende, ainda, as parcerias entre poder público e iniciativa privada como o melhor caminho para solucionar problemas antigos, como os de logística e infraestrutura.

Jornal do Comércio – As indústrias dependem de inovação para se manterem competitivas. O que se projeta neste sentido?

Heitor Müller – Neste ano, fui na Cebit, em Hannover, e comecei a retroagir no tempo, lembrei do Polimax, o primeiro computador pessoal. Olhando equipamentos de última tecnologia me dei conta que, de lá até aqui, de tudo o que foi implantado, nada foi bolado no Brasil, nada foi inovado ou feito aqui. Estamos instalando dois institutos Senai de inovação (um de polímeros e outro de metalmecânico), para aprofundarmos essa questão na prática e não só na teoria. O objetivo desses institutos é colocar na prática o que nós tratamos na teoria, em inúmeros congressos, e treinar pessoas.

JC – Há o desafio de desenvolver uma indústria de ponta?

Müller – Fiquei muito feliz com a inauguração da HT Micron, junto ao Parque Tecnológico da Unisinos. A HT Micron é uma associação de empresários brasileiros com uma empresa de tecnologia de ponta da Coreia do Sul, que já está funcionando. A partir daí, vamos ver se conseguimos agregar mais. Outros empresários já visitaram, vamos ver se conseguimos desenvolver aqui no Vale dos Sinos o Vale do Silício do Rio Grande do Sul. A experiência é fenomenal, os coreanos estiveram aqui e adoraram. Tomara que tenha continuidade, porque, em primeiro lugar, são indústrias limpas. Em segundo lugar, são empregos bem remunerados, empregos de tecnologia de primeiro mundo.

JC – O que dificulta mais o desenvolvimento das indústrias: problemas estruturais ou a qualificação da mão de obra?

Müller – O problema vem da base. Fui a um shopping e vi uma criança, que não tinha dois anos ainda, em um carrinho, com um telefone celular na mão, brincando com ele. Aí eu vi futuro. Quer dizer, tem coisas que se aprende desde pequeno. Depois de uma certa idade, não se absorve mais tanto. Nunca me esqueço: em 1986, fui para o Japão, em um evento em Nagoia, e eu tinha uma guia de turismo lá. Um dia ela pediu desculpas porque chegou um pouco atrasada, pois tinha ido levar a filha à creche um pouco mais afastada. Eu brinquei com ela, porque eu sabia que tinha creche muito perto. Ela se justificou explicando que a creche mais próxima não tinha computadores, então ela levava a uma que já usava esses equipamentos. Era 1986. Imagina hoje quantas crianças têm computador nas escolas. Nós estamos implantando indústrias do conhecimento em várias cidades, mobiliando escolas com mesinhas e computadores para garantir que tenham aulas de informática. Só que o universo é muito grande e nós fazemos isso aos poucos, porque não temos, também, tantos recursos. O que temos feito é receber equipamentos de empresas que estão se desfazendo deles, para desmontar e montar outros, depois doados para as escolas. Mas é um trabalho longo. O ensino gaúcho era referência, era número em preparo dos alunos. Tem um dado de que estamos em quarto lugar no ensino secundário e em sexto lugar no ensino primário, hoje. Mas uma tecnologia montada pela Pucrs levou pesquisadores a concluírem que estamos em oitavo lugar no Brasil. O que houve com o nosso ensino, com a Secretaria de Educação? Qual foi o papel do Sindicato dos Professores, do movimento dos professores e das greves? São coisas que precisamos começar a perguntar e a levantar várias hipóteses.

JC – Suas colocações apontam para a simplificação de processos. Essa é uma bandeira da Fiergs, por exemplo, em relação aos tributos?

Müller – Sim e, nesse caso, unir alguns impostos. Você tem o PIS e Cofins sobre o faturamento, tem o ICMS, cada um com uma característica. Porque não faz um só? Unifica o conceito. Mas parece que tem gente com medo de perder o emprego se simplificar muito. A lógica é de que cada um tenha um lugar para botar um carimbo ainda.

JC – O que precisa ser feito para resolver os entraves logísticos do Estado?

Müller – Fernando Pessoa, o poeta português, escreveu alguns versos sobre sonhos e perguntaram se ele tinha sonhos. E ele disse: claro, também tenho muitos sonhos, só não tenho como realizá-los. Nós temos sonhos, de estradas boas e assim por diante, mas não temos como realizar. O governo do Estado não tem dinheiro! Então, associa com quem tem dinheiro e quer fazer. Mas o estado do Rio Grande do Sul demonizou os pedágios, que foram mal feitos. O primeiro equívoco: polo de pedágio. O propósito era o da solidariedade com os que moram nas vilas. Então, em uma estrada passa muita gente, mas o valor cobrado tem que manter também as vilas. Por isso que o pedágio é mais caro. Ninguém quer ajudar aos outros. Em segundo lugar: só 15 anos de concessão. Em qualquer parte do mundo, é, no mínimo, 25 anos, chegando a 35 anos, porque diluí no prazo o investimento. Só que o Rio Grande do Sul, em vez de aumentar essas parcerias, está diminuindo. Assim, ficamos na contramão se o governo federal, através da presidente Dilma Rousseff, quiser colocar mais um pedágio no Rio Grande do Sul, já que o PT demonizou os pedágios. O que nós precisamos fazer no Estado, em termos de logística, são as parcerias público-privadas (PPP). Temos apenas 15% do esgoto tratado no Rio Grande do Sul. Isso está nas mãos da Corsan, que não tem dinheiro. Uruguaiana achou uma fórmula de fazer os esgotos a partir das PPP, só que agora a Assembleia quer aprovar um projeto proibindo que empresas privadas façam isso. Vamos levar mais de 100 anos para fazer as redes de esgoto que precisamos. Quando se fala em concessão muitos entendem como privatização. Concessão é emprestar. É permitir a exploração da estrada para devolvê-la boa depois. Ela vai voltar a ser do governo, nunca vai ser da empresa privada. Apenas o uso, exploração e manutenção serão delas.

Fonte e Agradecimentos: http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=167579

Últimas Notícias: