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“Não adianta dizer que vai ter solução imediata”, diz presidente da Casan sobre falta de água

Faz três anos que Dalírio Beber assumiu a presidência da Casan e há três anos ele responde aos mesmos questionamentos sobre a falta de água em Florianópolis – situação que se repete desde a década passada. Quinta-feira, precisou se explicar ao governador do Estado e ao prefeito da Capital.

No fim da tarde, numa sala do terceiro andar da sede da companhia e com a retaguarda do superintendente na região, Carlos Alberto Coutinho, falou ao Diário Catarinense: não existe nenhuma solução imediata para resolver o problema.

Diário Catarinense – No ano passado, nesta mesma época, a Casan prometia a ampliação de 50% da capacidade de distribuição de água em Florianópolis, o que resolveria o problema de abastecimento. Por que a expectativa não se confirmou?
Dalírio Beber – O que nós dissemos no ano passado foi que a obra de melhorias na Eta Morro dos Quadros, que fica em Palhoça, permitiria a ampliação do volume de água tratada, sobretudo qualidade e regularidade de tratamento e portanto de distribuição. Falamos naquela época e continuamos falando. A obra está em andamento. Temos também uma rede adutora que está em processo de licitação, que vai estender a rede que já existe até a Via Expressa, e uma outra (já licitada, com execução prevista para março) que vai captar água na cabeceira da ponte e vai até a Bacia do Itacorubi . Com estas três obras nós melhoramos consideravelmente o abastecimento em Florianópolis. Mas não podemos dizer que com isto estará resolvido o problema do norte da Ilha.

DC – O que seria necessário para que não houvesse mais problemas no norte da Ilha?
Beber – Nós dependemos é de uma capacidade maior de adução na SC-401, em direção ao Norte. Nós temos hoje todo um sistema de captação de águas do aquífero dos Ingleses, temos captação na Daniela, no Rio Ratones, na Vargem Pequena, Vargem Grande, que totaliza em torno de 500 litros por segundo. Numa época normal (fora do pico) se consome de 250 a 260 litros por segundo. Então você veja que durante 11 meses e meio nós trabalhamos com 250 litros por segundo e neste momento nós estamos trabalhando com 500 litros por segundo.

DC – Todo o ano, com a vinda dos turistas, sabe-se que a população vai triplicar. Ainda assim a Casan continua sendo surpreendida?
Beber – Não existe nada no mundo que você não resolva com dinheiro. Somente a morte, o resto se resolve. Resta saber se estes investimentos todos serão suportados pela população residente. Ou seja, se criarmos mecanismos para atender exclusivamente o período de pico, alguém vai ter que amortizar isso e hoje quem paga a conta é o usuário do sistema. Nós temos também que ter a compreensão de que nem sempre tivemos esse fluxo aqui, até mesmo com dificuldade do abastecimento de energia elétrica – que desequilibrou o sistema. O problema existe e nós temos que concentrar esforços em busca de soluções, para que sejam pelo menos minimizados.

DC – Se é um problema recorrente, por que não são previstas medidas emergenciais?
Beber – Se nós formos olhar as reportagens feitas por vários veículos de comunicação, inclusive o Diário Catarinense, vamos ver que em Balneário Camboriú faltou água, mas lá não é a Casan quem gerencia o sistema. Mas por que faltou? Porque deu mais gente do que se previa. Faltou água em Itapema, não é Casan. Faltou água em Navegantes, não é Casan. Em Itapoá, São Francisco do Sul, nenhum destes é Casan. E no entanto, as matérias não disseram que não é Casan, o que não é justo. Nós temos é que ter a compreensão de que tivemos um movimento excepcional, aliado a um clima extremamente quente. Nós temos que olhar o todo. Temos 200 municípios atendidos pela Casan e quatro superintendências. No oeste de Santa Catarina não teve nenhum tipo de dificuldade de abastecimento. No Sul não tivemos nenhum problema nas cidades litorâneas, que também têm incremento de população considerável nesta época do ano – exceto um caso pontual em parte da Praia do Rosa. Nenhuma cidade operada pela Casan no Vale do Itajaí teve problema de abastecimento (Araquari não é uma cidade litorânea, mas lá nós temos uma situação preocupante há mais tempo e por isso temos investimentos projetados para este ano. Na superintendência da Grande Florianópolis tivemos problemas. Mas às vezes as forças são insuficientes para fazer o transporte da carga que surge. Ou seja, nós hoje temos limitações físicas.

DC – No ano passado a região de Tapera ficou mais de 10 dias sem água.
Beber – Não foi a região da Tapera, foi uma rua, em função de um problema pontual. Não se pode generalizar a situação de um bairro e compará-la ao ano seguinte.

DC – Quanto seria necessário para que o sistema de abastecimento funcionasse plenamente?
Beber – Não tenho bola de cristal para te dizer o que seria necessário de recursos para resolver o problema. Nós temos hoje um estudo de concepção para captar água do Rio Tijucas e trazer esta água para abastecer Florianópolis, especialmente o norte da Ilha. É uma previsão de R$ 295 milhões, já com uma adutora. Este é um número que temos hoje na mão.

DC – E demoraria quanto tempo para uma obras destas ser concluída?
Beber – Primeiro que nós não temos este dinheiro fácil. A pergunta que se precisa fazer é quanto vai custar a tarifa de água depois da obra, para amortizar o empréstimo de R$ 295 milhões. Vai aumentar a tarifa. Pense o seguinte: esta obra toda viria apenas para suprir a deficiência que nós constatamos hoje. É um recurso que teria que vir a fundo perdido, captado junto ao governo federal.

DC – Em litros, quanto seria necessário?
Beber – Não seria muito mais do que 500 litros por segundo (o que temos hoje). É que houve uma descompensação do sistema em função das quedas de energia. Nós precisamos voltar a compensar o sistema para que os 500 litros sejam suficientes para atender a população do Norte da Ilha.

DC – Se sabe que as quedas de energia aumentam durante esta época. Não seria o caso de investir em geradores?
Beber – Um gerador será instalado para funcionar durante cinco/seis dias. Só que ele ficaria 12 meses instalado ali. Você vai ter que ter gente durante o ano inteiro operando este gerador para na hora que, nestes cinco dias que você precisa, ele funcione. Então você vai ter um custo a mais na tarifa.

DC – Mas o senhor não concorda que as pessoas iriam preferir pagar um pouco mais e ter a garantia da água ao invés de pagar menos e não ter?
Beber – Não seria um pouco mais, seria muito mais. Porque na verdade, no norte da Ilha, você não tem um único sistema, são vários sistemas espalhados que fazem esse conjunto de 500 litros por segundo. Então hoje nada impede que nós acatemos a sugestão de analisar em profundidade a possibilidade da adoção da compra e locação de geradores. Em princípio você vai ter geradores para dois, três dias.

DC – Existe solução imediata?
Beber – Não adianta prometer e dizer que vai ter solução imediata. Não, nós temos é que reequilibrar o sistema para que volte à normalidade.

DC – O que o senhor diria para uma família que está há uma semana sem água?
Beber – Não teve nenhuma família que passou tanto tempo sem água. Teve, digamos assim, famílias que passaram com menos água do que o habitual.

DC – Temos informações de moradores que estão saindo de Florianópolis em função da quantidade de dias sem água.
Beber – (pergunta a Carlos Alberto Coutinho) com toda a sinceridade, até sábado as condições de abastecimento estavam normais? Estamos em 2 de janeiro e o problema começou no 28 de dezembro, então são cinco dias. Não estamos confortáveis, em absoluto. estamos desconfortáveis porque não era isso que nós desejávamos.

DC – O senhor foi surpreendido?
Beber – Eu vou te perguntar, Balneário Camboriú foi surpreendida? Navegantes foi surpreendida? Itapema foi surpreendida? São Francisco do Sul foi surpreendida? Itapoá foi surpreendida? Eu acho que precisamos ter uma visão mais larga, menos pontual.

DC – A Casan, foi surpreendida?
Beber – Temos que ter uma visão mais larga, é o que estou falando. O que aconteceu neste Litoral? Tivemos uma situação de excepcionalidade no fluxo de pessoas. Na cidade de Balneário Camboriú foram 1,5 milhão de pessoas no dia 31. Em Copacabana, e aí é sé pensar em quantas as pessoas moram no Rio de Janeiro e mais quantos turistas vão para lá, foram 2,5 milhões. Ou seja, estes números eu acho que podem ajudar a explicar a excepcionalidade do movimento que o litoral do Sul teve nesta virada do ano.

DC – O que o senhor falaria para quem está em casa sem água?
Beber – Eu quero dizer que não existem casas sem água, existem casas onde nós estamos tendo momentaneamente dificuldade de abastecimento regular e satisfatório. Para estas pessoas nós pedimos compreensão. Temos que ter a humildade de pedir e dizer que lamentavelmente não é um caso que está acontecendo só aqui. Mas que a Casan está trabalhando para que o sistema volte ao normal, não concedemos férias para nenhum funcionário. Mas não temos nenhuma solução de cartola.

DC – E no ano que vem, se a quantidade de pessoas for a mesma?
Beber – Eu espero que não falte água.

DC – O que será feito de diferente para que a situação não se repita?
Beber – Eu não vou prometer hoje. Promessas feitas de rompante, apenas para agradar, ninguém vai ter de mim. Mas com certeza os nossos técnicos vão sentar de forma responsável e pensar em soluções de curto prazo, que possam ser empreendidas para permitir que se crie uma perspectiva diferente para o ano que vem. E não vou torcer por menos movimento. Porque dá a impressão que a gente torce para que a cidade não cresça, para que o setor do turismo não se desenvolva, muito ao contrário.

DC – Mas o senhor não fica com o receio de que os moradores de Florianópolis se voltem contra o turismo?
Beber – Não. É difícil, eu tenho muitos amigos que gostariam de vir para o norte da Ilha e se tivesse uma casa eles poderiam ficar lá, apertando bem. Mas seria ético da minha parte colocar 25 ou 30 pessoas numa casa feita para 10? Ou seja, nós responsabilizamos a empresa de infraestrutura, mas nós mesmos estamos superlotando o sistema. Então será que todos nós estamos sendo éticos com a estrutura disponibilizada na nossa comunidade? É uma bela discussão.

DC – Como o senhor tem dormido nestes últimos dias?
Beber – Eu quero te dizer o seguinte: quem perturba o teu sono não é o trabalho, é a tua consciência. Eu neste momento estou desconfortável e triste, não vivo com prazer em função do sofrimento dos que estão sem água, mas estou com a consciência tranquila de que nós estamos empreendendo todos os esforços. O que é possível de ser feito está sendo feito. Vou perguntar para o Coutinho, (pergunta) quantas horas vocês tem dormido nos últimos dias? (resposta: não mais que quatro). Na noite do dia 31 ele passou trabalhando no norte da Ilha e não tomando espumante.

DC – Na sua casa faltou água?
Beber – Na minha não faltou. Eu moro no Centro e o problema está concentrado no norte da Ilha.

DC – Há reclamação também sobre a busca por informações, na central de atendimento da Casan.
Beber – Eu recebi esta reclamação hoje (ontem) pela manhã e o pessoal da diretoria comercial já está verificando o que está acontecendo. As informações precisam ser prestadas.

DC – Tem perspectiva de o abastecimento de água ser normalizado?
Beber – Nós lutamos pelo mais rápido possível. Se nós pudéssemos fazer o dito milagre eu te diria que está feito, mas não dá. Então vamos trabalhar para gradativamente o sistema voltar ao normal.

Fonte: Exame
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