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Água em Governador Valadares só dura mais um dia

Governador Valadares, no Leste de Minas Gerais, só tem água para abastecer sua população por mais 24 horas. A lama que vazou no rompimento das barragens da mineradora Samarco em Mariana, na Região Central de Minas, na quinta-feira, e chegou ao Rio Doce, alcançou ontem o município de 278 mil habitantes. Com isso, o Serviço Autônomo de Abastecimento de Água e Esgoto (SAAE) interrompeu a captação no rio e pediu aos moradores para economizarem água. Em nota, a administração municipal informou que não há prazo para a retomada da captação e, por isso, todo desperdício deve ser evitado.

A interrupção na captação da água no leito do Rio Doce ocorreu por volta das 13h de ontem, quando os primeiros sinais de poluição apareceram no curso d’água, antes que ela chegasse ao município. O SAAE coletou amostras da água e as análises demonstraram que o nível de contaminação é alto, o que impede o tratamento até que a lama se dilua

De acordo com Vilmar Rios, diretor-adjunto do SAAE, não há como saber por quanto tempo a contaminação vai prejudicar a captação no Rio Doce. Por volta das 16h, carros de som contratatos pela prefeitura começaram a percorrer as ruas da cidade, reforçando o pedido para que todos façam economia de água. A defesa civil municipal previa que o maior volume de lama passasse pela cidade por volta das 21h.

A interrupção da captação de água em Governador Valadares é mais um drama resultante do rompimento das barragens do Fundão e Santarém, da mineradora Samarco. Horas depois da tragédia, a avalanche de lama atingiu os rios Gualaxo e Carmo e inundou a cidade de Barra Longa. Na manhã de sexta-feira, os responsáveis pela represa de Candonga, em Santa Cruz do Escalvado, tiveram que abrir as comportas da hidrelétrica para impedir que o grande volume de água e lama destruísse a barragem. Com isso, a lama de rejeitos chegou ao leito do Rio Doce, deixando rastros de poluição em municípios como Rio Doce, Naque, Ipatinga e Valadares. Ontem à tarde, os primeiros sinais de poluição chegaram a Colatina, no Espírito Santo, com moradores denunciando que a água tratada nas torneiras estava marrom e com um cheiro forte.

EM PLENA SECA A poluição do Rio Doce, causada pela tragédia em Mariana, chega em um momento que Governador Valadares enfrenta uma das piores secas de sua história. Em agosto, o Estado de Minas publicou reportagem mostrando que o nível do rio era o mais baixo nos últimos 10 anos, conforme atestavam monitoramentos feitos nas estações de Ipatinga e Governador Valadares, em Minas, e Colatina, no Espírito Santo.

Além disso, em julho, a série de reportagens Amarga agonia mostrou que a seca na Bacia do Rio Doce levou o manancial a não chegar mais ao Oceano Atlântico por seu caminho tradicional. A foz original virou uma lagoa represada por uma faixa de areia de dois metros de altura. A reportagem destacou que o problema na foz é resultado da degradação que se espalha pelos 850 quilômetros do leito do rio e pela maior parte da bacia de 86 mil quilômetros quadrados.

Turbidez acima do limite legal

As primeiras análises feitas pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) na bacia hidrográfica do Rio Doce, próximo a Bento Rodrigues, apontam que a turbidez e a condutividade elétrica estão acima do limite legal, pela presença de sólido (barro) na água. O Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Sisema) informou ontem que ainda serão analisadas amostras de sedimentos nos pontos de amostras de água para varredura dos metais e quantificação dos metais de interesse (metais pesados). Além disso, será realizada a caracterização da lama. Tais análises indicarão a qualidade da água para o abastecimento humano.

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