Estudo faz parte do projeto “PharmArctic”, que investiga os impactos de toxinas nos ecossistemas árticos e a relação com atividades humanas.
Com objetivo de entender as marcas que os seres humanos deixam na natureza, pesquisadores da empresa SINTEF, do Instituto Polar Norueguês e da Universidade Central em Svalbard, todos na Noruega, estudaram amostras de crustáceos do Ártico. Os resultados chamam atenção: drogas como ibuprofeno, diclofenaco, antibióticos e antidepressivo foram detectadas nos animais.
O achado, que pode parecer inusitado para alguns, não foi uma completa novidade para os cientistas.
“Ibux [que possui ibuprofeno] é uma droga comumente usada e que permanece por bastante tempo no meio ambiente se comparada a medicamentos que costumam se decompor rapidamente, como paracetamol. Portanto, esta não foi uma descoberta tão surpreendente. No entanto, o que nos surpreendeu foram as altas concentrações da droga em uma área pouco habitada.” afirma Ida Beathe Øverjordet, pesquisadora da SINTEF, em nota.
As amostras de crustáceos foram coletadas perto da região de Ny-Ålesund, que possui apenas 30 habitantes permanentes. No verão, devido à presença de pesquisadores visitantes, trabalhadores temporários e turistas, a população pode chegar a 200 pessoas. A concentração de algumas drogas encontradas no Ártico é equivalente ou superior ao que foi registrado por um estudo realizado na cidade de Longyearbyen, que é significativamente mais populosa — possui 2.500 habitantes e recebe milhares de turistas ao longo do ano.
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A quantidade de toxina à qual os organismos são expostos varia de acordo com os animais.
“Anfípodes se alimentam de carniça e outros materiais orgânicos depositados no fundo do mar e, por isso, podem ficar mais expostos a toxinas que se acumulam nessa região”, pontua Øverjordet.
Os copépodes, crustáceos que pertencem a um segundo grupo analisado, são planctons ricos em gordura essenciais para peixes e aves do Ártico. Por ocuparem um dos níveis mais baixos da cadeia alimentar, os copépodes têm a capacidade de repassar substâncias para animais maiores.
Até o momento, ainda não foram identificadas concentrações de droga que sejam nocivas para a vida selvagem do Ártico. Apesar disso, existem estudos que mostram que antidepressivos alteram o comportamento de zooplânctons e peixes. No caso das espécies do Ártico, não se sabe qual é o nível de tolerância para toxinas, mas Øverjordet acredita que o tema será explorado futuramente.
A pesquisa faz parte do projeto PharmArctic, que investiga a relação entre o descarte de materiais por humanos e as concentrações de drogas farmacêuticas e produtos cosméticos. Os resultados poderão influenciar o modo como a área é gerida e as regulações nacionais e internacionais em âmbitos como o do turismo.
“É verdade que navios de cruzeiro não podem descartar o esgoto perto da terra, mas se os compostos têm uma vida útil longa, eles podem causar problemas mesmo assim”, observa a cientista.
Fonte: Revista Galileu