saneamento basico

É tanto esgoto que até a cor da água da Billings sofre os efeitos

 A diferença de tons na coloração da água da Represa Billings, evidente quando se sobrevoa o manancial – que banha Santo André, São Bernardo, Diadema, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, além da Zona Sul da Capital – expõe a fragilidade do reservatório em relação à poluição.

Os matizes ficam nítidos a 150 metros de altura, como a equipe do Diário constatou em sobrevoo a bordo de helicóptero Bell 206 Jet Ranger.

O tradicional azul-escuro da ‘caixa-d’água’ da Região Metropolitana, responsável pelo abastecimento de 1,6 milhão de pessoas em Santo André, São Bernardo e Diadema, se limita ao braço Rio Grande, separado por barragem artificial do corpo central da Billings, onde o manancial ganha tom esverdeado.

A diferença de cores é facilmente explicada à medida que se olha ao redor do reservatório, na região do pós-balsa, onde estão instaladas 20 mil pessoas, sendo metade delas ainda em moradias sem saneamento básico. A ‘nata’ de cor esverdeada sobre a represa se deve a fenômeno conhecido como eutrofização.

Trata-se do surgimento de algas a partir do excesso de esgoto descartado pelos imóveis irregulares somado à insolação tropical.

“Além do esgoto doméstico e industrial, há a carga difusa, que é a somatória dos poluentes existentes (medicamentos, resíduos de combustíveis, fertilizantes, agrotóxicos) e que são lançados na represa por meio da chuva”, explica o ambientalista, integrante do Conama (Conselho Nacional de Meio Ambiente) e presidente do Proam (Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental), Carlos Bocuhy.

O principal problema, destaca, é que muitos dos produtos químicos presentes na represa acabam “vazando pelo sistema”, o que impõe atenção em relação ao tratamento da água.

Com o avanço da degradação do ecossistema a partir do desmatamento e, em consequência, aumento do volume de terra na represa, ocorre o assoreamento dos braços da Billings.

Além de colaborar para a diminuição do manancial, o que já vem acontecendo ao longo dos anos – desde sua criação, em 1927, houve redução de 23,46% de seu volume –, a perda da capacidade de armazenamento corresponde também à maior concentração de poluentes na água.

Outra consequência da poluição, essa para a saúde, é observada em mostra preliminar de pesquisa que vem sendo elaborada pela USCS (Universidade Municipal de São Caetano) desde 2015. Conforme o estudo, metade da população que vive no entorno do manancial sofre com doenças gastrointestinais e 40% têm problemas de pele.

“Gastroenterites, dermatites e parasitoses intestinais acabam levando pessoas ao sistema público de Saúde”, ressalta a coordenadora do projeto, a bióloga especialista em recursos hídricos e professora, Marta Ângela Marcondes.

O sistema Rio Grande, responsável pelo abastecimento de parte da região, tem capacidade para produzir até 5.500 litros de água tratada por segundo, conforme a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico de São Paulo).

Do produto, a empresa ressalta a “alta qualidade, dentro dos parâmetros determinados pela Portaria 2914/2011 do Ministério da Saúde”.

A importância da Billings foi realçada em meados desta década, entre 2014 e 2016, quando o Estado de São Paulo enfrentou a pior crise hídrica em oito décadas.

Com o quase esgotamento do principal reservatório paulista, o Sistema Cantareira, as autoridades ampliaram a captação na represa do Grande ABC.

Se nada for feito para estancar, ou diminuir consideravelmente, as agressões à Billings, estudos apontam que em dez anos a qualidade da água estará totalmente comprometida.

É o que dá ignorar aquelas casinhas, aparentemente inofensivas, que, a torto e a direito, surgem no meio da Mata Atlântica – e que o Diáriodenunciou na série especial que começou na quinta-feira e termina hoje.

Despoluição é investimento necessário para reparar danos

A recuperação da qualidade ambiental da represa Billings é possível e deveria ser encarada como prioritária pelos agentes públicos. Isso é o que defendem especialistas ouvidos pelo Diário. Relatório sobre a vulnerabilidade hídrica da Região Metropolitana do Estado, elaborado pelo Proam (Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental) em março, considera que há vasta experiência internacional e tecnologias disponíveis com eficiência comprovada para despoluir corpos d’água.

“A despoluição é um investimento necessário e representa a reparação de danos ambientais”, ressalta o presidente do organismo social e conselheiro do Conama (Conselho Nacional de Meio Ambiente), Carlos Bocuhy.

Para o ambientalista, despoluir a ‘caixa-d’água de 1,2 bilhão de metros cúbicos não é tarefa pioneira, tendo em vista experiências internacionais bem sucedidas de descontaminação de lagos poluídos, inclusive por contaminação química.

“Deve-se chamar atenção da sociedade para não permitir o abastecimento de água com tratamentos cosméticos e superficiais. É um investimento de alto retorno para médio e longo prazos, trazendo benefícios ambientais e prevenindo danos à saúde pública”, observa Bucuhy.

Outro caminho necessário para a recuperação da represa é o retorno do Grande ABC à gestão tripartite do subcomitê Billings-Tamanduateí (entre sociedade civil, município e Estado) em seu caráter consultivo e deliberativo, defende o advogado especializado em Direito ambiental e presidente do MDV (Movimento em Defesa da Vida do Grande ABC), Virgílio Alcides de Farias.

Na visão do ambientalista, para se que construa estrutura de gestão, é preciso transparência de informações por meio de relatórios anuais sobre a qualidade, produção e capacidade de reservação do manancial. “Trata-se de uma gestão integrada, descentralizada e com aporte financeiro”, destaca.

Fonte: Diário do Grande ABC.

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