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Materiais ecológicos começam a substituir o plástico no comércio do DF

Das 400 toneladas de descartáveis retiradas a cada dia das ruas do DF, apenas 15% são reciclados. Incentivados por campanhas on-line, restaurantes, bares e lanchonetes da cidade substituem esses produtos, mas custo alto ainda é um obstáculo

Práticos e baratos, os descartáveis conseguiram um espaço na rotina que muitas vezes passa despercebido. Seja no cafezinho rápido durante o trabalho ou o canudo do refrigerante do almoço, os materiais estão sempre presentes. O resultado disso são mais de 400 toneladas de plástico retiradas por dia das ruas do DF pelo Serviço de Limpeza Urbana (SLU). O tempo de uso é, em média, 60 segundos, mas o prazo que eles ficam no planeta até se decompor supera 400 anos.
O maior problema é a dificuldade de dar um destino correto aos materiais. No DF, só 15% de todo o plástico recolhido pelo SLU é reciclado, devido ao baixo preço de mercado. Enquanto a tonelada de alumínio custa R$ 2,5 mil e o de garrafas PETS, R$ 1,2 mil, o mesmo peso de descartáveis sai por cerca de R$ 350.
Hoje, o plástico representa de 60% a 80% de todo o lixo oceânico, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU). Estudo divulgado durante o Fórum Econômico Mundial de Davos mostra que, até 2050, existirá mais plásticos nos oceanos do que peixes.
O problema pode parecer distante do Planalto Central, mas, desde 2011, programas de limpeza do Lago Paranoá realizados pelo governo e pela iniciativa privada retiraram mais de 38 toneladas de lixo do principal corpo d’água do DF. Cerca da metade são plásticos.
Além disso, rodovias acumulam lixos jogados por motoristas. Muitas dessas estão localizadas próximas a córregos e nascentes que fornecem água não só para reservatórios de Brasília, mas de todo o país. O cenário atual e o ativismo de ambientalistas vêm fazendo com que o comércio passe por reestruturação, para um formato em que os descartáveis não terão mais vez.

Impacto

Os primeiros plásticos surgiram no início do século 20, e a explosão do uso, principalmente dos descartáveis, veio na segunda metade da década de 1950, provocada principalmente pelo baixo custo do produto. Hoje, um copo descartável custa, em média, R$ 0,02. Além dos problemas de decomposição, grande parte dos materiais são compostos de polipropileno e poliestireno, feitos a partir do refinamento do petróleo, recurso finito, que libera carbono durante a execução.
Um estudo de 2015 do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia (IFSP) Itapetininga mostrou que, para cada copo descartável produzido, são usados 500ml de água, mais do que seria gasto para lavar um copo de vidro na pia. Além disso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) levantou alerta de que o poliestireno, existente nos copos e canudos, ao serem submetidos ao calor, liberam o estireno, monômero tóxico apontado como cancerígeno.
No debate local sobre recicláveis, as promotorias de Meio Ambiente lutam pela implementação de políticas públicas que incentivem a diminuição de uso ou reúso. O promotor titular da 1ª Promotoria de Meio Ambiente do DF, Roberto Carlos Batista, conta que, no caso dos plásticos, o trabalho é focado, principalmente, na implementação da coleta seletiva.
“Com isso, o plástico deixará de ser misturado ao lixo orgânico, o que diminui o valor de venda. Precisamos de uma campanha a nível distrital para trazer atenção ao assunto”, explica. “Não se trata de um problema apenas ambiental, mas de saúde pública”, completa Roberto Batista.
Hoje, a coleta seletiva atende em torno de 54% do DF, segundo o SLU. São captadas cerca de 200 toneladas de lixo, das quais a metade é aproveitada para reciclagem. “A quantidade de plástico corresponde a mais ou menos 30 toneladas. O que tem mais valor são as garrafas pet, que praticamente não ficam nas cooperativas”, explica o diretor adjunto do SLU, Paulo Celso dos Reis. Para incentivar a prática, o órgão oferece subsídio aos catadores a cada parte de material vendida.
Segundo o órgão, 85% do plástico do DF vai para os aterros sanitários. “São produtos não biodegradáveis, ou seja, vão ficar séculos lá, decompondo. Se ele for colorido, a água da chuva ‘lava’ esse resíduo e a tinta vai para o meio ambiente. Temos um trabalho para tratar o solo e evitar isso, mas, com tanto resíduo, é um processo que vem ficando cada vez mais caro”, adverte Reis. O SLU gasta, aproximadamente, R$ 2 milhões por mês para tratar o Aterro de Samambaia. “Essa quantia vem do enterramento do resíduo, cobertura com terra, tratamento do chorume, coleta e queima de gás”, explica o diretor.

Ao lado da legislação

A guerra contra os descartáveis chegou ao Legislativo. Um dos destaques ocorreu em junho deste ano, quando a Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro aprovou projeto de lei que obriga os estabelecimentos comerciais a substituírem os canudos plásticos por biodegradáveis. A nível nacional, um PLS da senadora Rose de Freitas (PMDB-ES) pretende banir copos, pratos, bandejas e talheres descartáveis do Brasil em até 10 anos. O texto está em análise na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE).

Na Câmara Legislativa do DF o debate segue em passo semelhante. O deputado distrital Cristiano Araújo (PSD) tem dois projetos sobre o assunto. Em junho, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) analisou e aprovou o PL 976/2016, mais rígido que o projeto aprovado no Rio de Janeiro, que prevê a substituição de descartáveis de plástico em copos e canudos por produtos biodegradáveis. Agora, o projeto aguarda ser incluído na pauta do dia.

Multa

Os estabelecimentos que descumprirem a norma pagarão multa de R$ 1 mil a R$ 5 mil. O outro projeto, o PL 274/2015, que também aguarda ser adicionado à ordem do dia, pretende que todas as embalagens plásticas de produtos comercializados no DF contenham informações sobre o tempo de decomposição.
A professora de direito ambiental do UniCeub Mariana Cirne acredita que as legislações podem ter efeito positivo. “A consciência ambiental é algo criado com o passar de anos e, se não tivermos algum tipo de sanção, a situação fica só no debate. O grande problema é que essas leis pedem auxílio de uma indústria (de produtos biodegradáveis) que ainda não está forte no DF. Será preciso também incentivo tributário para que os produtos se tornem mais baratos para que todos consigam acessá-los”, explica.
A especialista ainda alerta para a urgência da questão. “Desativamos o Lixão da Estrutural há pouco tempo, mas, agora, vamos acabar esgotando o novo aterro em poucos anos se continuarmos levando tantos resíduos que poderiam ter uma melhor destinação”, destaca.

O que diz a lei

A Lei Federal nº 12.305/2010, conhecida como Política Nacional de Resíduos Sólidos, institui instrumentos para o enfrentamento dos principais problemas sociais, ambientais e econômicos relacionados ao manejo inadequado dos resíduos sólidos. No Artigo 9 é determinada a ordem de prioridade na gestão e gerenciamento de resíduos sólidos. A primeira é não gerar produtos que se tornem lixo. Se não for possível, reduzir a produção. Depois disso, é indicada a reutilização de um produto o máximo possível, depois, a reciclagem, o tratamento dos resíduos sólidos e a disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos. A lei institui também a responsabilidade compartilhada dos geradores de resíduos de uma linha produtiva que vai do fabricante ao consumidor. É uma logística que segue exemplo da instaurada em países europeus, que coloca todos como responsáveis pelo lixo que produzem.

No embalo dos biodegradáveis

A luta contra os plásticos descartáveis ganhou os holofotes no último ano. A comoção teve início pela internet com campanhas como a #RefusePlasticStraws (Recuse canudos de plástico, em inglês), focadas em mostrar o impacto do uso dos objetos na vida marinha. Em um dos vídeos da iniciativa, uma equipe de pesquisa retira um canudo preso no nariz de uma tartaruga. Incentivadas pela comoção on-line, diversas marcas e empresas se juntaram à ação e estão substituindo os descartáveis das lojas. Em Brasília, o Correio encontrou 12 restaurantes, bares e lanchonetes que trocaram copos e canudos por materiais ecológicos ou biodegradáveis.
Os desafios, no entanto, são muitos. Segundo os empresários, alguns materiais biodegradáveis chegam a ser três vezes mais caros do que o mesmo produto em versão descartável. Um dos pioneiros no DF é o Na Praia. No último ano, após três meses de evento, menos de 5% dos resíduos produzidos foram levados para o aterro sanitário.
O principal responsável pela marca foi um trabalho que reduziu em quase 100% o uso de descartáveis. Internamente, foram adotados “copos ecológicos”, entregues no formato de caução. “Avisamos que as pessoas podem trazer um copo de casa, mas, para aqueles que não puderem, oferecemos os nossos. O objetivo não é faturar, tanto que, se o cliente não quiser levá-lo, pode devolver e é reembolsado”, ressalta Eduardo Azambuja, diretor de Sustentabilidade do Na Praia.

Pegada ecológica

O engenheiro florestal Kallel Kopp é consultor de sustentabilidade para empresários que buscam adicionar produtos biodegradáveis ou ecológicos ao perfil. Ele conta que, entre os clientes, há desde famílias que não querem usar descartáveis na festa de aniversário do filho a megaeventos.
“Falo muito para os comerciantes que querem investir na área que não se trata de vender um produto, mas de apoiar uma ideia. Temos os copos consignados, por exemplo. Colocamos um preço baixo, por volta de R$ 6, e, se a pessoa não quiser levar para casa, ela recebe o dinheiro de volta. E isso é bom até para o empreendedor, que tem um serviço que não gera custo a ele”, ressalta. A solução para os canudos, o principal vilão do momento, é a substituição do material de plástico por inox ou vidro. “A lógica da sustentabilidade é que, o quanto menos descartar, melhor vai ser”, diz Kallel.
Na Ricco Burguer, hamburgueria instalada na 306 Sul, as ações sustentáveis chegam aos talheres. Na última semana, a empresa começou a usar colheres feitas de mandioca. O produto é comestível, mas, ao ser jogado no lixo, torna-se também compostável, sendo decomposto em dias. “Faz parte de uma pegada sustentável que adotamos. Ao abrirmos a loja, tivemos muita preocupação com as embalagens devido à grande quantidade de lixo que geraria. Aí, procuramos opções sustentáveis. Hoje, temos copos biodegradáveis, estamos implementando ecocanudos e sacolas de papel”, afirma o proprietário, Lucas Porto.

Bastidores

O Pinella Bar, na 408 Norte, quer se tornar o primeiro bar lixo zero do DF. Desde junho de 2017, o estabelecimento adotou uma postura que, para a proprietária, Flávia Attuch, significa ter responsabilidade sobre tudo o que é produzido e emitido para a natureza. “A primeira mudança foi quando paramos de trabalhar com long necks, devido à dificuldade na reciclagem de vidros para as empresas do DF. Após isso, entramos com copos em caução; substituímos os papéis toalha do banheiro por secadores de mão; eliminamos os canudos; e passamos a usar colheres de madeira”, detalha.
A empresária acredita que as alterações não devem ficar apenas no que é entregue ao cliente, mas também na parte interna do empreendimento. “Comecei a perceber que comprávamos produtos que vinham dentro de várias embalagens. A carne tinha um plástico ao redor. Depois, vinha outro e, mais além, uma caixa. Com a verdura era a mesma coisa. Daí, comecei a falar com os nossos fornecedores, tentando levar a ideia de eles também irem contra o desperdício”, conta. (PG).

Fonte: Correio Braziliense

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