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No Fórum da Água, ONG alerta para ameaças a rios da Amazônia

Enquanto o desmatamento na Amazônia gera comoção internacional, os riscos que pairam sobre os rios da bacia amazônica não mobilizam ações de prevenção na mesma medida. Em meio às atividades do 7º Fórum Mundial das Águas, que acontece nesta semana na Coreia do Sul, a organização WWF alertou para as ameaças aos ciclos hidrológicos da região, uma questão que, segundo a ONG, tem sido menosprezada pelos agentes públicos e privados.

O principal perigo é a previsão de construção de pelo menos 250 hidrelétricas nos próximos anos. As instalações alterariam a conectividade dos rios e dos ecossistemas da bacia amazônica, com impacto na biodiversidade.

“Quando há uma hidrelétrica ou uma barragem, nós convertemos um sistema natural de água corrente em um sistema artificial de água parada. Essa lógica acaba perdida, seja porque há menos entendimento porque fica escondida, embaixo d’água, ou porque há menos comoção do que há na relação com a fauna de mamíferos, por exemplo”, lamenta Cláudio Maretti, líder da Iniciativa Amazônia Viva, da respeitada organização internacional de proteção ambiental.

O relatório State of the Amazon: Freshwater Connectivity and Ecosystem Health (O Estado da Amazônia: Conectividade e Saúde dos Ecossistemas de Água Doce) aponta que a pecuária e a mineração também suscitam preocupação, ao gerarem poluição dos rios e prejudicarem a pesca, uma atividade econômica essencial para a região e de subsistência para milhares de famílias. A degradação dos rios teria efeitos não apenas na natureza e na vida local, como afetaria o abastecimento de água e energia elétrica muito além da região amazônica, uma vez que as hidrelétricas e barragens alimentam lugares bem mais distantes.

“Ao construirmos centenas de hidrelétricas na Amazônia, nós vamos gerar um processo de maior desmatamento e comprometimento dos sistemas aquáticos, prejudicando o ciclo hidrológico que leva às chuvas para o resto do continente, ou seja, afetando a fonte que move as hidrelétricas, a água”, alerta.

Desmatamento chama mais a atenção

Maretti destaca que o mundo e, principalmente o Brasil, aprendeu a se mobilizar contra o desmatamento daquela que é considerada o “pulmão do planeta”. Os avanços dos últimos anos são inegáveis – porém os riscos sobre os rios têm sido desconsiderados.

“No caso das florestas, nós degradamos muito a Amazônia, mas hoje essa consciência já existe. Provavelmente vai dar tempo de manter a Amazônia funcionando com um ecossistema vivo, se a gente continuar reduzindo o desmatamento”, afirma. “Mas com relação aos ecossistemas aquáticos, essa é a pergunta que se coloca.”

Fronteiras

O Fórum Mundial da Água, que se repete a cada três anos, é o maior evento de recursos hídricos. Especialistas, ministros, políticos, empresários e organizações do mundo inteiro estão reunidos para debater sobre o futuro da água, um recurso natural essencial que estará em déficit de 40% no planeta até 2030, segundo a ONU.

Presente nas discussões, Moretti observa que a questão do gerenciamento transfronteiriço dos recursos hídricos é um dos principais desafios a serem encarados pelos países – uma questão que é negligenciada pelo Brasil, na opinião do ambientalista.

“A Amazônia está em nove países, não só no Brasil. A bacia amazônica está em seis deles. Ou seja, não é uma questão de um país só, e isso tem se falado muito aqui [no fórum]. O enfoque transfronteiriço é fundamental – e no caso da Amazônia, os países ainda não estão trabalhando de forma articulada”, relata. “O Brasil tem muito a fazer em termos de proteção dos seus rios, e ainda muito mais a fazer em termos de ação transfronteiriça, de trabalhar a bacia amazônica ou a do Pantanal em conjunto com os seus vizinhos.”

Para o Brasil, o Fórum Mundial da Água é também uma oportunidade de se preparar a próxima edição da conferência, que será realizada no país. Será a primeira vez que a América Latina vai receber o evento internacional.

 

Fonte: RFI

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