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Propostas sobre Billings são rasas

As propostas dos candidatos ao governo do Estado, João Doria (PSDB) e Márcio França (PSB), sobre a preservação dos mananciais que alimentam a represa Billings, não fazem nenhum apontamento sobre novos projetos.

Ao eleitor se limitam apenas a citar os programas Pró-Billings, que já está em andamento e tem recursos da Jica (Agência de Cooperação Internacional do Japão). O RD questionou os dois políticos sobre as propostas para garantir a qualidade do reservatório e intenções em relação ao afastamento de esgotos da represa e dos cursos d´água da região, bem como a operação, em toda sua capacidade, da ETE (Estação de Tratamento de Esgotos) do ABC. Os especialistas avaliam que as propostas não se aprofundaram no tema e tecem críticas.

Márcio França respondeu apenas que a água não é captada diretamente da Billings, mas do braço do Rio Grande e que a qualidade da água, após tratamento, segue os padrões do Ministério da Saúde. “A poluição da Billings é causada por diversos fatores e todos precisam ser combatidos. A Sabesp tem investido no aumento da coleta e tratamento de esgoto, com destaque para o Programa Pró-Billings, que aplica mais de R$ 160 milhões em obras, ao beneficiar diretamente 250 mil moradores da região. No total, o Pró-Billings inclui a instalação de 100 quilômetros de redes coletoras de esgoto, 33 km de coletores-tronco e linhas de bombeamento e 39 estações elevatórias de esgoto. São instaladas novas tubulações e bombas que transportarão os rejeitos de São Bernardo até a ETE ABC. A iniciativa vai beneficiar indiretamente os demais municípios do ABC com a valorização da represa Billings e dos córregos e rios”.

Doria segue praticamente a mesma linha do concorrente, ao acrescentar apenas que vai cobrar o cumprimento de prazos. “O programa pró-Billings seguirá em nosso governo com obras e ações para melhorar a qualidade da água desse manancial e contribuir com sua preservação. A previsão de entrega das intervenções é até o fim de 2020 e vamos trabalhar para que este prazo seja cumprido. Mais de 1 bilhão de litros de esgoto por mês passarão a ser coletados e tratados, para beneficiar mais de 250 mil pessoas de São Bernardo”.

Sobre a ETE, Márcio França sustenta que a estação terá a capacidade ampliada em um terço a partir do início de 2021, quando passará a tratar 4 mil litros por segundo. “Existem obras em andamento para levar mais esgoto da região à ETE ABC, inclusive do aumento decorrente do Pró-Billings e do Projeto Tietê”.
O candidato tucano diz entender a importância da estação de tratamento. “Vamos avaliar junto à Sabesp como aproveitar cada vez mais o potencial da estação ETE. Além de evitar a poluição de córregos e rios, o tratamento de esgoto é fundamental para garantir a saúde da população, por isso será prioridade”.

‘Ambos mostram desconhecimento do sistema hídrico’

Para a bióloga e professora Marta Marcondes, responsável pelo Projeto IPH (Índice de Poluentes Hídricos) da USCS (Universidade de São Caetano do Sul), as propostas são rasas, quando se trata de conhecimento do sistema hídrico da região. Marta sugere que os candidatos conheçam o entorno do reservatório. “O candidato Márcio França disse que a captação de água não é na Billings, mostra desconhecimento, é no Rio Grande, que é um braço da represa, tem uma interligação. Mas o importante é que os dois têm respostas parecidas, porque parece que suas assessorias leram o projeto Pró-Billings, isso é bom porque mostraram que vão dar continuidade ao projeto, isso é uma coisa bacana”, analisa.

Marta Marcondes considera que faltou a Doria e França aprofundamento sobre cobertura vegetal que garante a recarga do reservatório. “Faltou falar ainda sobre como vão dialogar com os municípios em relação aos planos estaduais e municipais de saneamento ambiental”, aponta.

Para o advogado especialista em Direito Ambiental, presidente da Comissão de Meio Ambiente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e membro do MDV (Movimento em Defesa da Vida), Virgílio Alcides Farias, as propostas dos candidatos demonstram falta de conhecimento. “Eles disseram o que os técnicos da Sabesp disseram para eles, não falaram nada sobre o Estado não estar cumprindo o que está na Constituição Estadual, de 1989, que deu um prazo de 3 anos para estados e municípios se adequarem e não mais lançarem esgoto nos rios e represas; esse prazo venceu em outubro de 1992, ou seja há 26 anos. O Estado tem de parar de bombear esgoto dos rios Tietê e Pinheiros para a Billings, porque isso nem resolve o problema das enchentes e ainda polui a represa”, analisa.

Carlos Henrique Oliveira, arquiteto urbanista e professor de Engenharia Ambiental e Sanitária da Universidade Metodista, diz que Doria e França possuem conhecimento parcial do problema da Billings, embora prometam apoio à continuidade do Pró-Billings e propõem avançar na implantação das redes coletoras de esgoto e no encaminhamento destes para tratamento. “Mas os dois não abordam duas questões importantes: a carga poluidora vinda do bombeamento dos rios Tietê e Pinheiros em épocas de cheias e a despoluição do reservatório para que este contribua para o abastecimento da metrópole”, diz.

O especialista da Metodista afirma ainda que os dois candidatos apresentam limitações de compreensão sobre a estrutura urbana e de saneamento do ABC. “Se restringem a responder com dados e informações apenas de São Bernardo, enquanto a ETE foi estruturada para atender os sete municípios”, completa.

Fonte: RD

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