Grupos Saneamento Projetos
As empresas de saneamento começaram a caminhar para uma nova formatação para arcar com os investimentos previstos no setor e se beneficiarem do elevado interesse de investidores, inclusive estrangeiros.
Além das já aguardadas operações em bolsa de valores, algumas das companhias têm conversado para eventuais combinações de negócios, muito embora nenhuma conversa esteja avançada neste momento, conforme fontes.
Os investimentos previstos para o setor são pesados. Até 2026, os leilões de saneamento programados poderão somar R$ 65,6 bilhões de obras contratadas – considerando iniciativas do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), do governo paulista e da Copasa (Companhia de Saneamento de Minas Gerais). A estimativa é que para atingir a meta de universalização até 2033 os aportes chegarão a cerca de R$ 900 bilhões, segundo cálculo da Abcon (Associação Nacional das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto).
Especialistas apontam que o setor deverá atrair, de forma constante, o capital estrangeiro, visto que o Brasil é um dos países com mais ativos no setor de saneamento e com elevado potencial de expansão.
A Sabesp, privatizada no ano passado, passou a ser ativa em negociações após sua privatização. Além de analisar os leilões de concessões previstos, incluindo aqueles fora de São Paulo, a empresa de saneamento paulista é uma das interessadas na estatal Argentina Águas de Buenos Aires, conforme interlocutores.
Grupos Saneamento Projetos
A privatização argentina, que está sendo estruturada pelo IFC (Internacional Finance Corporation), deverá ser voltada para a manutenção da rede e aumento da eficiência, dado que o serviço já está universalizado. O projeto tem sido visto no mercado como interessante, embora os fatores políticos preocupem.
Em outra frente, a companhia também tem demonstrado interesse no controle da Copasa, com o governo de Minas Gerais avançando no processo de privatização. Além de Sabesp, Aegea, Perfin e a francesa Suez já manifestaram interesse no ativo, conforme noticiou o Valor.
O ‘feedback’ dos investidores ficou ainda mais positivo após privatização da Sabesp”— João Lopes
A Copasa ainda analisa o formato para sua privatização, que poderá ser via um leilão ou uma oferta subsequente de ações (“follow-on”). A aposta, nos bastidores, é de que a companhia opte por um leilão para a venda de seu controle, dizem fontes.
Investimentos
Já a BRK, que pertence à gestora canadense Brookfield, contratou sindicato de bancos para estar preparada para uma possível oferta inicial de ações (IPO, pela sigla em inglês). A intenção de captar com uma abertura de capital, no entanto, ainda depende de uma reabertura de janela na bolsa brasileira, que há quatro anos não tem um IPO, a maior entressafra há mais de duas décadas.
Fontes dizem que a empresa decidiu retomar o processo de abertura de capital após a manifestação de interesse de investidores estrangeiros, em conversas recentes feitas com o mercado.
A Aegea também é forte candidata para um IPO, mas no mercado ela não é vista como a empresa que vai reabrir mercado. A estimativa é de que a companhia deve aguardar uma boa janela para conseguir um “valuation” que considera adequado. Além de seu interesse em Copasa, a empresa também tem uma equipe estudando o ativo de saneamento argentino, mas com cautela.
Privatizações
A empresa também já teve conversas para comprar a Iguá, mas sem sucesso até aqui e sem uma perspectiva de avanço no curto prazo, segundo fontes. Pessoas a par do tema dizem que há interesse da Aegea em consolidar o mercado brasileiro, porém, isso elevaria muito a alavancagem do grupo, em um momento de outras oportunidades grandes, como a privatização da Copasa e o leilão das concessões Pernambuco, marcado para dezembro.
Além disso, no caso da Iguá, houve um recente aumento de capital da companhia, o que gerou uma marcação de preço muito recente, o que dificultaria a negociação, aponta uma fonte. No passado, tentativas de compra da empresa travaram porque a Aegea queria o controle, enquanto o CPP (Canada Pension Plan), maior sócio da Iguá, não queria abrir mão do negócio. Uma possibilidade para a Aegea, dizem elas, seria propor uma fusão, mas fontes não veem nada nesse sentido avançando rapidamente.
Do lado da Iguá, que já tentou fazer IPO no passado, sem sucesso, também não há perspectiva de curto prazo para uma oferta de ações, segundo João Lopes, diretor financeiro da empresa. “Acho difícil que no próximo ano essa janela esteja colocada de forma tão clara. Vai depender muito do mercado e do que tiver colocado de projetos para a companhia. Hoje não precisamos de capital.”
Projetos
Após a conquista da concessão de Sergipe, no ano passado, a empresa decidiu se voltar para dentro e consolidar suas operações, deixando novos projetos em segundo plano. O megaleilão de Pernambuco, marcado para dezembro, não está mais sendo analisado pela companhia, e a privatização da Copasa também não está nos alvos prioritários neste momento, em que não há modelagem confirmada.
Ainda assim, o grupo diz que quer continuar crescendo no futuro. “A estratégia de expansão está ligada a ativos maiores e a sinergias com as operações atuais. Entendemos que as melhores oportunidades ainda estão por vir. Blocos que podem se consolidar, operações mais próximas das nossas operações”, disse René Silva, presidente da Iguá. Como exemplos, ele citou licitações municipais próximas aos contratos e o bloco D em Alagoas, que está em estudo e pode sair em 2026.
Quando a retomada dos planos de expansão chegar, os executivos dizem que há diferentes caminhos para atrair capital, e que há interesse do mercado. “O ‘feedback’ dos investidores tem sido positivo e ficou mais ainda depois da privatização da Sabesp, porque foi um caso de sucesso e muitos não conseguiram entrar”, disse Lopes.
Saneamento
O corresponsável pela área de M&A do Goldman Sachs na América Latina, Pedro Muzzi, afirma que o Brasil é o país com o maior pipeline de ativos no setor de saneamento e que os investidores estão atentos às movimentações. “O Brasil é um vetor de crescimento para essas empresas e vamos ver cada vez mais estrangeiros participando”, diz.
Em 2026, a expectativa é que diversos projetos venham ao mercado, segundo Lucas Sant’Anna, sócio do Machado Meyer Advogados. “Tem muita coisa por vir. Os Estados estão se organizando para fazer concessões e buscar o melhor modelo para seu ativo.” Além dos projetos de Pernambuco e da Copasa, ele cita oportunidades no Ceará, no Rio de Janeiro, em Goiás e no Espírito Santo, entre outros. “Não acredito que saia tudo, mas tem muitos estudos.”
Procuradas, a BRK, a Aegea e a Sabesp não comentaram.
Fonte: Valor.