Resumo
Visando ampliar a utilização de materiais reciclados, neste trabalho, foi avaliada a substituição do polímero
acriconitrila-butadieno-estireno (ABS) por policarbonato reciclado (PCr) na fabricação de peças cromadas.
Peças em PCr e blendas PCr/ABS, na proporção de 20/80, 40/60 e 60/40, foram produzidas pelo processo de
injeção e submetidas às etapas de pré-tratamento e deposição eletrolítica no processo convencional de
cromagem. Após a etapa de condicionamento químico, as peças foram caracterizadas por análises
termogravimétrica (TGA), calorimetria diferencial de varredura (DSC), microscopia eletrônica de varredura
(MEV) e espectroscopia no infravermelho (FTIR/ATR) e os resultados foram comparados com os de peças em
ABS. As amostras condicionadas foram cromadas e a qualidade da adesão das camadas metálicas foi avaliada
por inspeção visual e testes de adesão. A adesão das camadas metálicas foi dependente da concentração de
PCr na mistura, sendo aprovadas as amostras com até 40% de PCr na mistura. O uso de PCr na produção de
peças cromadas mostrou ser viável, contribuindo com a diminuição de resíduos plásticos descartados no meio
ambiente.
Introdução
Devido às suas propriedades, versatilidade de uso, baixo preço e grande variedade de aplicações, os polímeros
tem sido cada vez mais utilizados, consequentemente, é grande a quantidade de resíduos plásticos descartados
no meio ambiente, que apresentam elevada resistência à degradação natural, em aterros ou lixões municipais
(FRANCHETTI e MARCONATO, 2006; ZHAO et al., 2018). O caminho que proporciona a redução do
consumo de materiais não renováveis, a minimização de resíduos, o aumento da vida útil dos locais de
disposição final é a sua reutilização. Normalmente, o preço do polímero reciclado é 40% mais baixo do que o
da resina virgem (ROSÁRIO et al., 2011). Devido ao exposto, o uso de materiais reciclados, pode ser uma
alternativa para diversos processos como na cromagem, por exemplo.
A cromagem é realizada em uma grande variedade de peças poliméricas, com finalidade decorativa (estética), como
por exemplo, como componentes de banheiro, eletrodomésticos, tampas para frascos de perfume, peças automotivas,
entre outros (VIDAL et al., 2016). Dentre os polímeros de engenharia, o ABS (acrilonitrila-butadieno-estireno) é tradicionalmente o mais usado por apresentar excelente adesão das camadas metálicas depositadas (OLIVEIRA et al.,
2016).
O processo de cromagem em polímeros mais empregado pelas empresas galvânicas é por meio da imersão em
soluções químicas e se divide em duas etapas principais: pré-tratamento químico (banho condicionador, neutralizador,
reativador, ativador, acelerador e níquel químico) e a deposição eletrolítica (níquel strike, cobre ácido, níquel
brilhante e cromo decorativo) (MA et al., 2013; KUREK et al., 2017).
Para determinadas aplicações que exigem rigidez e resistências ao impacto e térmica, o ABS apresenta certas
limitações. Desta forma, peças em policarbonato (PC) ou ainda de blendas PC/ABS podem ser empregadas (LUO,
2014). O PC fornece boas propriedades mecânicas e térmicas e o ABS proporciona melhor processabilidade e menor custo
às blendas (MA et al., 2013; THANH et al., 2017; HUND, 2018). Na literatura são encontrados estudos que
avaliaram a utilização de polímeros reciclados (PC e ABS) em porcentagens de 2 a 70% (CANDIDO, 2011), 25%
(MEDON, 2013), e os resultados mostraram que a incorporação de material reciclado pode ser realizada sem alterar
significativamente as propriedades do material. Com base no exposto, neste estudo, foi avaliada a possibilidade de
substituir o ABS por PC reciclado ou blendas PC reciclado/ABS, visando ampliar as aplicações de peças com
material reciclado e cromadas na indústria automotiva e de outros setores, em função da melhoria de
propriedades, além de contribuir com a preservação do meio ambiente.