Fatores sociais e ambientais associados à ocorrência da esquistossomose no município de Serro, Minas Gerais

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Resumo

A esquistossomose mansoni é uma doença tropical negligenciada afetando anualmente milhões de pessoas em todo mundo. É provocada pelo parasito Schistosoma mansoni que, além do hospedeiro definitivo, depende do ambiente aquático e de caramujos do gênero Biomphalaria como hospedeiro intermediário para completar seu ciclo biológico. De uma forma geral, sua ocorrência está associada a grupos sociais vulneráveis vivendo em áreas deficitárias em serviços de saneamento ambiental e a padrões de comportamento da população. Além disso, alterações promovidas no ambiente por atividades humanas em diferentes contextos, sobretudo aquelas que afetam diretamente as coleções hídricas podem favorecer a instalação ou manutenção de focos da doença. Desta forma, o presente estudo objetivou analisar os fatores ambientais e sociais associados à dinâmica de ocorrência da esquistossomose no município de Serro, estado de Minas Gerais. Para tanto, conduziu-se estudo epidemiológico, de caráter descritivo e quantitativo dos casos de esquistossomose ocorridos no período 2010-2014, a partir de dados levantados junto ao Programa de Controle da Esquistossomose de Serro e de entrevistas com a população. Foram identificados 352 casos diagnosticados no período considerado, dentre os quais 104 participaram das entrevistas. Da população total afetada, observou-se ser esta predominantemente masculina (62,78%), em idade economicamente ativa de 15-59 anos (80,1%), com ensino fundamental incompleto (52,8%) e residindo na área rural (81,5%). Dentre os entrevistados, a maioria era natural do próprio município (84,7%), morando na atual residência há mais de 20 anos (70%) na qual convivem de 3-6 pessoas (65,4%). A principal forma de ocupação são as atividades agropecuárias (48,1%), com a maioria mantendo hábito regular de fazer exames e consultas médicas (62,5%). A maior parte faz uso de água proveniente de nascentes (56,7%) e consideram a água consumida nas casas de boa qualidade (86,5%). A maioria das moradias possui banheiro com vaso sanitário (79,8%) destinando o esgoto para fossas secas no quintal ou rede de esgoto da rua (73,1%). É expressivo o número daqueles que declararam frequentar semanal (90,4%) ou quinzenalmente (79,7%) rios, ribeirões e córregos (74,5%), cachoeiras (13,8%) e açudes (9,6%) na região, na maioria das vezes mantendo contato com as águas para pescar (55,3%), nadar (56,6%) e fazer travessia de caminho (41,5%). A maioria dos entrevistados declarou ter alguma informação sobre a doença antes de ser diagnosticado infectado (81,7%) e 62,5% não retornaram aos serviços de saúde para realizar o exame após tratamento medicamentoso. A distribuição da esquistossomose no município de Serro esteve significativamente agregada na porção leste do município, em áreas com menor variação na elevação e declividade, maiores índice de vegetação e umidade, associada a áreas com maior proporção de domicílios cujo esgotamento sanitário ocorria diretamente em cursos d’água. Observou-se, ainda, que o maior número de casos da doença ocorreu em localidades drenadas por rios da bacia hidrográfica do Rio Doce. Diante das particularidades apresentadas na extensão do município, principalmente em relação à espacialização da doença entre as duas grandes bacias hidrográficas do município (Jequitinhonha e Rio Doce), as informações apresentadas podem contribuir para o direcionamento das ações de controle na escala municipal, seja por meio de estruturação sanitária e ambiental, ou por meio de orientações quanto ao comportamento e exposição às coleções hídricas eventualmente contaminadas por parte da população.[/vc_column_text][vc_column_text]

Introdução

A esquistossomose, também conhecida por xistose, barriga d’água, dentre outras denominações, é uma doença infecto parasitária transmitida aos humanos quando esses entram em contato com águas contaminadas pelas formas infectantes de parasitos do gênero Schistosoma (BRASIL, 2014).

Esta doença assume grande relevância como problema de saúde pública, sobretudo nos países onde ainda persistem altos percentuais da população vivendo com baixos níveis de renda e em áreas com saneamento ambiental precário. A esquistossomose ocorre de forma endêmica em 78 países tropicais e subtropicais. Em 2013, aproximadamente 261 milhões de pessoas requereram tratamento quimioterápico preventivo, das quais 92% viviam em países do continente africano, ao passo que em torno de 39,5 milhões tiveram que se submeter ao tratamento curativo após terem sido infectadas (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2015). No Brasil, esta doença afeta diretamente 19 das 27 unidades federadas, nas quais se estima que um contingente de aproximadamente 25 milhões de pessoas viva sob condições de risco de infecção e 2,5 a 7,0 milhões estejam parasitadas (BARBOSA et al., 2008; BRASIL, 2012).

A espécie Schistosoma mansoni é a responsável pela ocorrência da doença no Brasil, assim como em toda a América do Sul. Seu ciclo evolutivo envolve a presença de caramujos do gênero Biomphalaria como hospedeiro intermediário, o qual é responsável pela liberação nas coleções hídricas das formas infectantes do parasito, as cercárias. Nas áreas endêmicas do país, a espécie Biomphalaria glabrata é o principal hospedeiro invertebrado do S. mansoni.

Ambientes nos quais existam coleções hídricas contaminadas por fezes humanas contendo ovos de S. mansoni e condições ecológicas adequadas ao desenvolvimento do Biomphalaria podem propiciar o estabelecimento do ciclo de transmissão da doença. Estudos realizados em diversas regiões têm ressaltado que a dinâmica do comportamento e interação das populações com estes ambientes. Destacam-se aqueles relacionados às atividades ocupacionais e de lazer, que envolvam contato direto com águas contaminadas, podendo ser considerados fatores de risco para a exposição e infecção da população (BETHONY et al., 2001; ENK et al., 2010a; SOW et al., 2011).

A Organização Mundial da Saúde (OMS) avalia que, nas últimas duas décadas, o Brasil tem conseguido implementar com sucesso medidas de controle visando reduzir o número de casos de esquistossomose (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2013a). O impacto da implementação do Programa de Controle da Esquistossomose (PCE), criado em 1975, com a realização de inquéritos coproscópicos e o tratamento da população infectada, proporcionou uma redução de 38,5% no número de portadores da doença no período de 1976 a 2003. Entretanto, o percentual de positividade encontrado na população em 2012 foi de 4,5%, valor bastante próximo dos 5,1% encontrados no início do programa (AMARAL et al., 2006; DRUMMOND et al., 2010; BRASIL, 2014). Diversos fatores podem estar contribuindo para dificultar a redução do número de casos de infectados no país, como por exemplo, os intensos fluxos migratórios de pessoas, a dispersão de hospedeiros intermediários, persistente deficiência de infraestrutura de esgotamento sanitário e o surgimento de novas modalidades de empreendimentos econômicos, como o turismo rural e o ecoturismo (MASSARA et al., 2008; KLOOS et al., 2010).

Em Minas Gerais, 61% dos municípios estão localizados em áreas endêmicas para a doença e apresentam transmissão ativa do Schistosoma (DRUMOND et al., 2010), dentre os quais, encontra-se o município de Serro (GUIMARÃES et al., 2006).

O município de Serro tem na agropecuária leiteira, produção de queijo e turismo religioso importantes atividades que movimentam a economia local. A atividade de produção leiteira ocorria em 466 estabelecimentos rurais do município (IBGE, 2006). Outra atividade turística crescente está associada à grande quantidade de quedas d’água e cachoeiras com potencial uso balneário (MARQUES, 2009).

Por esta razão, o presente estudo procurou analisar as especificidades de condições socioambientais, ocupacionais e padrões de comportamento da população local que podem estar relacionados à ocorrência e manutenção da esquistossomose no município de Serro.[/vc_column_text][vc_column_text]

Autores: Carlos Eduardo Siste.

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