Tijolos ecológicos de solo cimento: alternativa sustentável à destinação do lodo gerado em estações de tratamento de esgotos

Resumo

Os Sistemas de Esgotamento Sanitários são complexos industriais essenciais à manutenção do equilíbrio ecológico e das relações simbióticas sustentáveis entre o homem e a natureza, embora seja sabido que o processo operacional de tratamento de esgotos seja potencial gerador de impactos socioambientais e que por princípio carece de gerenciamento.

Avalia-se que, no Brasil, a maior alíquota de lodo gerado em ETE’s – Estações de Tratamento de Esgotos – tem sido descartada (sem nenhum tratamento) em aterros sanitários, resultando em vicissitudes ambientais e econômicas.

Pensando nisto, foi desenvolvido estudo, por intermédio deste trabalho, objetivando avaliar a influência da adição do lodo de esgotos gerado na ETE do município de Santana do Ipanema – AL, sobre as propriedades tecnológicas do tijolo ecológico de solo-cimento. O método adotado embasou-se na análise experimental, impetrada a partir dos ensaios de caracterização e qualificação de tijolos-ecológicos de solo-cimento regimentados pela ABNT e pela ABCP.

Os resultados apontam que a incorporação do lodo de ETE influencia diretamente nas propriedades tecnológicas dos tijolos ecológicos e demonstram que o lodo analisado pode ser incorporado em formulações de solo-cimento numa proporção aproximada de 5% em relação à massa de solo seco, sem que haja grandes avarias nas propriedades mecânicas da matéria desenvolvida.

Introdução

Por muito tempo, no âmbito dos países da América Latina se tem negligenciado a importância da gestão dos resíduos sólidos na manutenção do equilíbrio ambiental dos ecossistemas. O gerenciamento do lodo gerado, cada vez em maior volume, a partir da operação de Sistemas de Esgotamentos Sanitários SES’s, fundamental a manutenção do equilíbrio biótico nos ecossistemas, vem preocupando os municípios. Estima-se que todos os anos, no Brasil, produza-se mais de 220.000 toneladas de lodo seco, advindo do tratamento de esgotos em Sistemas de Esgotamento Sanitários. Hoje, tem-se a ciência que o lodo de esgotos assume alto potencial de contaminação ambiental, logo, carece de gerenciamento fim.

As vantagens potenciais da reciclagem e da reutilização de resíduos sólidos na promoção da sustentabilidade dos ecossistemas são muitas, John (2000) aponta como reflexos notórios e emergentes da reutilização dos resíduos: redução do volume de aterros, preservação de recursos naturais, economia de energia, redução da poluição, geração de empregos, redução do custo do controle ambiental pelas indústrias e maior durabilidade na economia de divisas. Em tudo denota-se que o gerenciamento responsável de resíduos apresenta-se cada vez mais como prática de gestão importante à sustentabilidade, quer seja por atenuar o impacto ecológico gerado pela indústria, quer por reduzir os custos de produção advindos com a destinação inadequada dos resíduos.

É indiscutível o quanto os sistemas de tratamento de esgotos são necessários à saúde ambiental dos ecossistemas e a preservação dos recursos naturais. Todavia, segundo Cassini et al. (2003), é fundamental para essa avaliação a inclusão promissora da gestão adequada dos resíduos gerados nas Estações de Tratamento de Esgotos – ETE’s.

Segundo Nucci et al. (1978) apud Camilo (2013) “o tratamento de esgotos normalmente resulta na produção de dois subprodutos importantes: O efluente líquido pronto para ser devolvido ao meio ambiente, e o lodo primário e secundário – resíduo com grande concentração de microorganismos, sólidos orgânicos e minerais”, que por se tratar, em termos classificatórios, de detrito proveniente dos serviços públicos de saneamento básico necessita de gestão integrada conforme as diretrizes da lei 12.305 de 2 de agosto de 2010.

De acordo com Andreoli (2006) apud Maziviero (2011) o lodo de esgotos representa em média 1% a 2% do volume total do esgoto tratado, denota gerenciamento bastante complexo e custos elevados. Todavia atenta-se que, diante da emergência de se preservar os recursos naturais, insurge o desafio de encontrar formas economicamente viáveis e ambientalmente seguras que tencionem a transformação dos resíduos, de lixos industriais e/ou urbanos à tecnologias sustentáveis.

A preocupação com o descarte correto do lodo de esgotos é algo relativamente recente no Brasil. Até poucos anos, a única referência ao lodo nos projetos das ETE’s, após o tratamento, era uma seta e as palavras “disposição final”, sem identificar onde seria o descarte e nem como seria feito. Dessa forma, as empresas gerenciadoras de saneamento básico procuravam apenas se livrar do resíduo, sendo as formas mais utilizadas o descarte da torta de lodo em aterros sanitários – landfill, e o descarte do lodo líquido, bombeado através de dutos até alto-mar – descarga oceânica (NUVOLARI et al., 2011).

A história elucida que “até a década de 60 a disposição final do lodo resultante de sistemas de tratamento de efluentes era feita em aterros sanitários, mas devido o aumento na geração deste resíduo, tal alternativa passou a ser ineficaz do ponto de vista físico e ambiental” (AZUMA, 1973 apud GEYER 2001).

A Lei 12.305 (BRASIL, 2010) institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos e deixa patente que o sistema de gerenciamento de resíduos deve obedecer uma sequencia sistemática de prioridades de forma que um detrito com potencial de reutilização, por exemplo, não seja de nenhuma forma descartado como rejeito em aterros sanitários.

Nesses parâmetros fica cada vez mais evidente que a disposição final, em aterros sanitários, do lodo gerado nos sistemas de esgotamento sanitários, sobretudo os provenientes de gradientes industriais, não se configura como alternativa sustentável, visto o viés anticíclico que preconiza essas disposições e o emergente e consequente impacto negativo perpetrado no meio ambiente, inserido, mesmo após disposição em aterros, com a produção cogente de subprodutos considerados danosos a saúde dos ecossistemas, como é o caso do chorume e do metano.

Segundo Ingunza et al. (2006) apud Silva (2008) o reaproveitamento de resíduos em tecnologias da construção civil é uma prática que vem sendo utilizada de maneira crescente no Brasil, justamente por predispor práticas ambientalmente corretas que reduzem o consumo de recursos naturais, tanto na forma de matérias-primas quanto na forma de energia, transformando resíduos em recursos, reduzindo portanto os custos advindos com a disposição final dos resíduos.

Considerando os estudos já realizados com os tijolos de solo-cimento, o presente trabalho objetiva, a partir de estudo de caso, equacionar a formulação de tijolos ecológicos (Figura 1) através da mistura de solo, cimento Portland, água e lodo seco produzido a partir do Sistema de Esgotamento Sanitário do município de Santana do Ipanema – AL, operado atualmente pela Companhia de Saneamento de Alagoas – CASAL. Logra-se, de outro viés, a necessidade de minimizar o impacto socioambiental potencial dos Sistemas de Esgotamentos Sanitários com usufruto de tecnologias cíclicas capazes de desencadear processos sistemáticos sucessivos e sustentáveis de transformação, de forma que a saúde socioambiental seja afiançada como produto fim do desenvolvimento sustentável.tijolos-ecologicos Por esta ótica, pode-se asseverar que os tijolos ecológicos de solo-cimento expõem-se como alternativa prática de destinação de resíduos sólidos quando se conforma como veículo tendencioso à formulação de diversas misturas em substituição parcial de seus componentes básicos: solo, cimento e água. Santos et al. (2009) licita a ideia sustentável intrínseca as formulações de solo-cimento quando expõe as vantagens potenciais dos tijolos ecológicos, que contempla: não passar pelo processo de queima, apresentar maior resistência mecânica, possuir maior isolamento acústico e térmico, combater a umidade e desenvolver menor peso.

Logo se vê que através do gerenciamento sustentável dos resíduos sólidos é possível expandir o alcance de preservação da saúde ambiental e humana de forma que o meio ambiente não seja lesado e o ser humano não viva em condições sociais deploráveis.

Autores: Antônio Ramos Soares Júnior; Israel Correia Oliveira e Julio Cesar Moura Menezes Júnior.

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