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25% das casas em Salvador usam “gato” para acesso à água sem pagar

Enquanto muitas cidades do Nordeste passam por dificuldades por conta da falta de água, em Salvador, a situação parece ser outra. Afinal, muitas residências da capital baiana possuem ligações irregulares, conhecidas popularmente como “gatos”.

De acordo com o Superintendente de Abastecimento da Região Metropolitana de Salvador da Embasa-Empresa Baiana de Águas e Saneamento, José Moreira, toda a cidade tem problemas com as ligações irregulares de água. “Nós não temos um número preciso, mas cerca de 25% das residências de Salvador têm algum tipo de fraude. São pessoas que quebram os hidrômetros, fazem desvios e até mesmo furam a rede de água. Com isso, estimamos que cada casa que esteja irregular aumente seu consumo em quatro ou até cinco vezes, ainda mais sabendo que não vão pagar pelo uso excessivo”, disse.
Para se ter uma ideia de quanto as ligações de água irregulares são prejudiciais, Moreira citou como exemplo a cidade de São Paulo. Além da falta de chuvas, os muitos “gatos” que haviam pela capital paulista só ajudaram a agravar ainda mais a situação dos reservatórios que abastecem a maior cidade do Brasil.

Em Salvador, segundo ele, o que preocupa não é a falta de chuvas, mas a quantidade de fraudes estimadas não só aqui como em toda região metropolitana. “Nós estimamos que, das pouco mais de um milhão de ligações que nós temos, cerca de 150 mil tem algum problema. E as pessoas que fazem esse tipo de coisa pensam que estão tirando algum tipo de vantagem, mas, na verdade, estão prejudicando a toda uma comunidade”, comentou.

Para ele, a situação ainda fica pior no Verão, quando o consumo de água na cidade aumenta entre 20% e 25%.

Uma família com até quatro pessoas, segundo ele, tem um consumo mensal, em Salvador, de 14 mil litros de água por mês. Em uma mesma situação, mas com o “gato”, esse mesmo consumo atinge quase 40 mil litros, mais que o dobro. “Houve até um caso de uma família aqui na cidade, que tinha uma ligação irregular, que chegou a gastar mais de 50 mil litros de água em um só mês. Se ele estivesse regularizado, o valor da conta ultrapassaria R$ 1 mil. O pior é que, mesmo quando são notificados, e passam determinado tempo regulares, as pessoas tornam a cometer este tipo de irregularidade”, falou.

E para quem pensa que casos como esse acontecem apenas em bairros mais populares, está enganado. Segundo Moreira, até em localidades como a Barra é possível encontrar os famosos “gatos de água”.

“Lógico que em bairros mais populosos acontece de termos mais este tipo de problema. Mas na Barra, durante o processo de requalificação da orla, achamos muita coisa errada em prédios, bares e até mesmo em hotéis mais conhecidos. Todos tiveram que pagar as multas para não ter sua água cortada”, expôs.
Segundo ele, quando casos como esse são detectados, geralmente a multa equivale a um ano da média de consumo de cada imóvel. Independente se o “gato” estiver no local há um mês ou há um ano, por exemplo.

Além dos “espertinhos”, o maior vilão das ligações irregulares de água são os lava-jatos, de acordo com o superintendente. Para Moreira, se houvesse uma regularização desses espaços que, segundo ele, “prestam um serviço, mas não pagam pela água, energia e o solo que ocupam”, ajudaria a diminuir um prejuízo que já ultrapassa milhões de reais por ano, além dos estragos que são causados ao meio ambiente.

Fiscais são ameaçados

Há até alternativas por parte da Embasa para resolver a questão. No entanto, de acordo com o superintendente, as dificuldades de acesso a alguns bairros e a baixa receptividade por parte de alguns moradores prejudicam o encerramento do problema.

“Quando chegamos a determinado lugar, para cortar a água e acabar com a irregularidade, alguns moradores vem armados e ameaçam nossos funcionários que, intimidados, não tem como realizar o serviço. É necessário um esforço conjunto não só nosso, como também do Governo do Estado e da Prefeitura de Salvador para que possamos mudar este panorama”, desabafou.

Para Moreira, apesar de toda a situação complicada, ele diz que a Embasa sempre dá a oportunidade de o usuário resolver o problema. Normalmente, o cidadão é notificado e tem até 30 dias para ficar regular. A depender da multa a pagar, esta ainda pode ser negociada. No entanto, em caso contrário, aí sim a água é cortada.

“As pessoas precisam ter uma maior conscientização quanto ao uso da água, por que essa é a única que nós temos e a tendência é de que ela venha a faltar um dia. Se as pessoas não começarem a pensar melhor sobre o uso que fazem dela, vamos entrar em colapso”, alertou.
Com o tema “Água vale mais do que você imagina”, a Embasa iniciou, no último domingo, em diversas cidades baianas, a sua campanha educativa, mostrando como o uso sustentável do recurso e economia da conta podem trazer benefícios à população.
No Verão, o consumo da água chega a aumentar mais de 20% e, por isso, há uma necessidade das pessoas estarem sempre alertas ao desperdício. Pequenos deslizes como lavar o carro com uma mangueira e levar os pratos com a torneira aberta podem, além de outras coisas, elevar a conta no final do mês.
De acordo com o órgão, as pessoas devem ficar atentas a vazamentos não aparentes –como em torneiras, por exemplo – e ter um reservatório que tenha capacidade suficiente para atender a necessidade diária de consumo dos habitantes de cada imóvel.
Algumas dicas para economizar água também são importantes tais como lavar as roupas sujas de uma só vez e desligar o chuveiro na hora de passar sabonete e xampu.

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