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Especialistas esperam onda estrangeira no setor de saneamento

A compra de 70% da Odebrecht Ambiental pela gestora canadense Brookfield deve desencadear uma nova onda de investimentos estrangeiros no setor de saneamento, segundo especialistas ouvidos pelo GLOBO. Com a aquisição, pela qual pagou US$ 878 milhões, a Brookfield tornou-se a maior empresa privada a atuar no tratamento de água e esgoto no Brasil. E poderá participar de outras parcerias público privadas (PPPs) pretendidas por estados e municípios sem recursos para investir na área.

— A crise financeira, a escassez de crédito e a Operação Lava-Jato abriram uma nova janela para investimentos estrangeiros no setor de saneamento. A compra da Odebrecht Ambiental pela Brookfield é o primeiro movimento dessa nova onda, após a definição do marco regulatório, em 2007 — diz Pedro Scazufca, sócio da GO Associados, consultoria especializada no setor.

Segundo ele, já há outros investidores do exterior olhando a possibilidade de entrar no país por meio de PPPs. Atualmente, o setor privado representa apenas 6% do mercado de água e 12% do de esgoto. E, de acordo com o Plano Nacional de Saneamento Básico, do governo federal, o setor de saneamento precisa de investimentos da ordem de R$ 300 bilhões até 2033 para universalizar os serviços.

— Nas nossas contas, o investimento necessário até 2033 é até maior, da ordem de R$ 360 bilhões, o que dá R$ 19 bilhões ao ano. Em 2015 e 2016, os investimentos ficaram abaixo de R$ 10 bilhões, já que estados e municípios ficaram sem dinheiro — diz Scazufca.

Ele observa que, sem um marco regulatório, o setor de saneamento contava com pouca participação do capital privado estrangeiro. A nova legislação trouxe maior clareza sobre a titularidade dos serviços e a obrigação de praticar tarifas que assegurem o equilíbrio financeiro dos contratos, 0 que começou a chamar a atenção dos investidores internacionais.

No ano passado, o GIC, fundo soberano de Cingapura, comprou por R$ 300 milhões participação minoritária na holding de saneamento Aegea, que atua no Estado do Rio com a concessionária Prolagos. A Queiroz Galvão vendeu 49% da sua participação na Águas do Brasil à japonesa Itochu por R$ 253 milhões, também em 2015.

O advogado Wladimir Ribeiro, do escritório Manesco, Ramires, Perez, Azevedo Marques, também acredita que a compra da Odebrecht Ambiental pela Brookfield vai despertar a atenção dos estrangeiros para o setor no Brasil. Ele afirma já ter recebido consultas de investidores interessados em saber sobre os riscos e observa que alguns negócios no setor começam a se destravar. O município de Santo André (SP), por exemplo, anunciou esta semana que encaminhou seu plano de privatização do serviço de saneamento. A única empresa credenciada na fase de apresentação da proposta técnica foi a Odebrecht Ambiental.

A Brookfield tem como sócio na Odebrecht Ambiental o Fundo de Investimento FGTS (FI-FGTS), com 30%. Isso, segundo Ribeiro, já garante parte dos financiamentos necessários para investimentos ou aquisições.

MOVIMENTO DE CONSOLIDAÇÃO

Para Scazufca, da GO Associados, o mais provável, é que a Brookfield entre na disputa por outras concessões, iniciando um movimento de consolidação do segmento e ampliando sua atuação no país, que já engloba 12 estados, incluindo o Rio de Janeiro.

— A Odebrecht Ambiental tem uma receita anual de R$ 2 bilhões. É um número bastante expressivo. E há muitas oportunidades de investimento para a Brookfield — afirma Scazufca.

Procurada, a Brookfield não quis falar sobre sua estratégia para o setor de saneamento. A Odebrecht também não se manifestou.

Fonte: O Globo

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