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Presidente da Sabesp prepara saída depois de blindar Alckmin nas eleições

Os movimentos aflitos e a falta de objetividade nas respostas se assemelhavam em nada com a fama e a pose com que a presidente da Sabesp, Dilma Pena, chegou à Câmara Municipal de São Paulo em meados de outubro, quando foi ouvida pela CPI que investiga a estatal paulista. As declarações e postura da executiva marcaram o fim de sua lua de mel com o governador Geraldo Alckmin, àquela altura grato à presidente por tê-lo blindado contra a crise hídrica durante a eleição que o reelegeu.

Formada em Geografia pela UnB (Universidade de Brasília) em 1975, Dilma Seli Pena iniciou sua carreira no funcionalismo público no ano seguinte como técnica em planejamento e pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Em 1987, tornou-se mestre em Administração Pública pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), época em que conheceu e caiu nas graças do hoje senador José Serra (PSDB-SP), seu avalista nos principais cargos que ocupou.

Quando o PSDB chegou ao Planalto nos anos 90, Dilma foi logo chamada pelo tucano para ajuda-lo no Ministério do Planejamento. Ali, Dilma foi diretora de saneamento da Secretaria de Política Urbana. Depois, alçada à diretoria de investimentos estratégicos do Ministério e à direção da ANA (Agência Nacional de Águas).

Dilma continuou como funcionária de confiança de Serra em sua passagem pelo governo de São Paulo. Na ocasião, foi secretária-adjunta da Secretaria de Economia e Planejamento e depois secretária de Saneamento e Energia.

Não por coincidência foi o próprio Serra quem indicou Dilma para substituir Gesner Oliveira na presidência da Sabesp em janeiro de 2011: o naco na principal empresa pública paulista era o prêmio de consolação a Serra, que no ano anterior deixara o Palácio dos Bandeirantes em favor da candidatura Alckmin em troca do direito de disputar a Presidência da República contra Dilma Rousseff.

Técnica de formação, é assim que Dilma Pena é vista pelos corredores da Sabesp. “Gestora de pulso”, dizem alguns, “fala pouco e sem rodeios”, dizem outros.

Entre os funcionários da Sabesp, Dilma é mais bem vista que Gesner, o antecessor. Ao contrário dele, ela raramente conversa com o baixo clero, mas cumpre os acordos costurados pelo diretor corporativo, Manuelito Magalhães, que a representa nas reuniões. Os funcionários citam, por exemplo, o fim do salário regional, que por décadas pagou 20% menos aos trabalhadores do interior.

Quem vê Dilma trabalhar menciona sempre quem a acompanha: um grupo de jovens auxiliares pinçados dentre os melhores de cada área. Munidos de planilhas e muito bem alinhados, esses especialistas são preferencialmente jovens porque a estatal não arcaria com o custo de um time experiente de auxiliares, como gostaria Dilma. “É preferível pagar um salário para especialistas em começo de carreira pública”, explica uma fonte.

CPI

Foi acompanhada deles e de uma comitiva de 50 funcionários da Sabesp que a executiva se apresentou à CPI em outubro. A pose de “rainha”, como acusam alguns, logo se desfez diante das respostas evasivas a respeito da crise hídrica. A falta de objetividade, no entanto, ganhou contornos de constrangimento com o vazamento de sua conversa com o vereador tucano Andrea Matarazzo minutos antes da sessão na Câmara.

Os circuitos da TV legislativa flagraram Dilma reclamando do vereador José Police Neto (PSD), ex-PSDB. “Ele é muito sem vergonha. A gente ajudou tanto e ele jogou os pés no nosso peito”, afirmou ela sem explicar o tipo de “ajuda” que teria dado. Se não bastasse, a executiva admitiu em seu depoimento que a água em São Paulo acabaria de vez se não chovesse até novembro.

O descontentamento de Alckmin chegou ao limite uma semana depois, quando outra gravação acabou pública: em reunião na Sabesp, Dilma admitiu que uma orientação superior impediu, durante a campanha eleitoral, que a estatal tornasse pública a real situação hídrica do Estado. “Cidadão, economize água. Isso tinha de estar reiteradamente na mídia, mas nós temos de seguir orientação, nós temos superiores, e a orientação não tem sido essa. É um erro”, afirmou ela ao alto escalão da Sabesp.

A declaração teria tirado o sono do governador, que até aqueles dias estava disposto a retribuir a blindagem que recebeu durante toda a eleição. Interlocutores afirmam que o governador passou a “fritar” Dilma e a minar seus poderes na estatal ao dar munição para um de seus mais fiéis secretários, Mauro Arce (Recursos Hídricos), presidente da Sabesp entre 2002 e 2003.

Ciente de que se converteria em bode-expiatório, Dilma Pena pediu demissão, sabendo que sua saída teria potencial de transformar a crise em escândalo. “Para o governo é melhor tê-la como aliada”, diz um interlocutor. Alckmin, então, pediu que ela ficasse no cargo até dezembro, quando o início de um novo mandato servirá de argumento para uma reforma secretarial e em administrações-chave.

Dilma aceitou permanecer no cargo enquanto acompanha a movimentação de quem sonha com sua cadeira. Aliados de Alckmin citam o próprio secretário Mauro Arce como postulante, outros apostam no diretor metropolitano da Sabesp, Paulo Massato, mas seu nome saiu enfraquecido em maio, quando sugeriu a necessidade de “distribuir água de canequinha em São Paulo”.

Mas há quem acredite mesmo em nomes ainda ligados a Serra. Um deles é o engenheiro, ex-prefeito de Santos e deputado federal eleito João Paulo Papa, aliado antigo do ex-governador. O favorito, no entanto, é Mauro Ricardo Costa, ex-presidente da Funasa (Fundação Nacional de Saúde) entre 1999 e 2002.

Administrador de empresas, o natural de Niterói ganhou seu primeiro emprego em São Paulo pelas mãos de Serra, então prefeito (2005), quando foi nomeado secretário Municipal de Finanças. A ele é atribuída a reorganização fiscal da cidade e a implantação da Nota Fiscal Paulista, um dos projetos-símbolos de Serra.

Alguns interlocutores ainda acham cedo demais apontar favoritos para a presidência da Sabesp, mas Dilma Pena já estaria atuando como demissionária: antes pouco afeita a dar satisfações, suas aparições públicas agora só acontecem em solenidades.

Fonte e Agradecimentos: http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2014-12-02/presidente-da-sabesp-prepara-saida-depois-de-blindar-alckmin-nas-eleicoes.html

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