saneamento basico

Cantareira perde, por dia, 120 mil caminhões-pipa

Mais de 2,392 bilhões de litros de água: essa é a quantidade diária “perdida” pelo Sistema Cantareira para abastecer quase 14 milhões de pessoas na região de Campinas e na Grande São Paulo.

Somente para estancar a “sangria” do sistema fragilizado e no limite, seriam necessários 120 mil caminhões-pipa por dia, com capacidade para 20 mil litros cada.

A água poderia gerar um custo de mais de R$ 36 milhões. O valor, apesar de alto, ainda é considerado virtual. Para empresas que trabalham com o serviço e especialistas, a viabilidade de usar os caminhões para salvar o Cantareira é nula.

O Correio levantou a hipótese como uma possível medida emergencial durante o pior período de seca do Estado de São Paulo.

A cidade de Saltinho, a 100 quilômetros de Piracicaba, tem estudado a possibilidade de elevar o nível de suas duas represas com caminhões-pipa. O município tem cerca de 7 mil habitantes — e sofre com a falta de água.

O racionamento é um dos mais severos do Estado: os moradores ficam com água somente três horas por dia.

No Sistema Cantareira, diariamente, o nível cai 0,2% em média. Desde quarta-feira o índice é o indicado pelo sistema de informação on-line da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp).

cantareira, seca, estiagem, caminhão-pipa

Empresa de caminhões-pipa em Campinas: sem racionamento, movimento está em queda neste Inverno
A quantidade de água consumida por dia inclui a reserva técnica. Chamada de volume morto, a água do fundo do reservatório tem sido sugada por bombas desde maio.

No total, são 982 bilhões de litros de água de capacidade, somados ao volume morto autorizado, de 182,5 bilhões de litros de água.

São 8,8 milhões de pessoas abastecidas com a água do sistema na Grande São Paulo e 5,5 milhões na região de Campinas. Na última sexta-feira, a capacidade do Cantareira estava em 14,2%

A conta foi feita com base ainda em estimativas de preços de empresas distribuidoras de caminhão-pipa de Campinas. Em uma situação normal, a média de custo de um caminhão pipa é de R$ 300.

O número é fictício, pois não leva em consideração a distância até o reservatório e a “importação” de água em outros estados. Uma das possibilidades seria a água disponível no Paraná, que tem reservatórios e rios cheios e é próximo de São Paulo.
Mas, vale lembrar: isso poderia causar um impasse político entre os governos.

Já para abastecer somente Campinas, seriam precisos 15 mil caminhões-pipa em um dia.

São 1,1 milhão de campineiros, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O consumo diário é 300 milhões de litros de água — isso, economizando.

Segundo a Sociedade de Abastecimento e Água e Saneamento S/A (Sanasa), Campinas tem reduzido o consumo de água em 20% devido ao longo período de estiagem.

O custo para gerar essa quantia de água capaz de abastecer um dia de consumo em Campinas é de R$ 4,5 milhões.

Na situação hipotética, para se ter uma ideia da quantidade de caminhões-pipa necessários, basta colocá-los em linha reta em uma estrada: com dez metros de comprimento cada, em média, enfileirados tomariam quinze quilômetros na pista.

Inviável

Para o especialista Antônio Carlos Zuffo, chefe do Departamento de Recursos Hídricos da Universidade de Estadual de Campinas (Unicamp) e consultor do Comitê das bacias Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), a possibilidade de utilizar caminhões-pipa para “frear” a queda no Sistema Cantareira é inviável e cara.

“Seria melhor levar a água diretamente para a estação de tratamento. Pouparia tempo de viagem e gasto com o processo”, disse.

Zuffo levantou ainda a alternativa de trazer água por trem, em vez do caminhão-pipa, para diminuir os custos.

“É inviável economicamente. Os vagões que transportam gasolina poderiam ser utilizados para trazer o mesmo volume de água”, disse. Segundo ele, o caminhão-pipa atende geralmente condomínios, que possuem reservatórios maiores.

Últimas Notícias:
Gerenciando Montanhas Lodo

Gerenciando Montanhas de Lodo: O que Pequim Pode Aprender com o Brasil

As lutas do Rio com lodo ilustram graficamente os problemas de água, energia e resíduos interligados que enfrentam as cidades em expansão do mundo, que já possuem mais de metade da humanidade. À medida que essas cidades continuam a crescer, elas gerarão um aumento de 55% na demanda global por água até 2050 e enfatizam a capacidade dos sistemas de gerenciamento de águas residuais.

Leia mais »