Maior problema são os esgotos lançados diretamente em seu leito em consequência da habitação humana.
O Igarapé São Francisco, em Rio Branco, corta pelo menos 18 bairros e, desde a entrada, no bairro Mocinha Magalhães, até a margem do Rio Acre, o maior problema são os esgotos lançados diretamente em seu leito.
No Dia da Amazônia, comemorado nesta quinta-feira (5), uma das preocupações dos gestores é em relação a ação humana.
Além disso, a diretora de Gestão Ambiental da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semeia), Dalva Martins, explica que toda a microbacia que forma o São Francisco também está poluída.
“Esse igarapé não nasce dentro da cidade. Nasce no km 41 da Transacreana e vão se juntando com outras nascentes e vai formando o igarapé. A partir do momento em que ele entra em Rio Branco, já vem poluído. A extensão dele é poluição”, afirma.
Poluição
Apesar de já vir com esse rastro de poluição, ela é acentuada dentro da área urbana. Dalva explica que isso acontece porque as microbacias que formam o São Francisco, que inclui outros igarapés como o Dias Martins, Batista e Igarapé Fundo, todos estão dentro da cidade e enfrentam os mesmos problemas de poluição.
“Olhamos a microbacia inteira e visitamos toda a extensão e verificamos os pontos em cada um, vimos quais são os problemas e onde precisamente estão estes problemas. E, a maioria deles [igarapé], está em áreas habitadas e as pessoas acabam fazendo a ligação dos esgotos para os igarapés”, pontua.
Em agosto deste ano, uma moradora enviou um vídeo ao G1, mostrando garrafas pet, portas de geladeiras, sacolas, fogões, animais mortos, entre outros. Ela afirmava que este era o cenário do Igarapé São Francisco em várias partes ao longo de seus 20 km de extensão dentro da capital.
Plano de mitigação
Essa identificação e acompanhamento dos problemas de poluição para encontrar as principais causas fazem parte de um relatório que está sendo produzido pela Semeia, que, ao concluir, deve produzir um plano de mitigação para começar um trabalho de intervenção no igarapé, segundo informou o secretário da Semeia, Aberson Carvalho.
“O que são essas ações de mitigação? São ações que envolvem o processo de limpeza, que são feitas de forma mais rápida. Já a recuperação requer a plantação de matas ciliares que é mais a longo prazo”, explica Carvalho.
O relatório é feito em três partes e duas delas já estão em fase de conclusão. Até o final do ano deve ser concluído todo o estudo que inclui apenas o trajeto do bairro São Francisco à margem do rio, segundo informou Dalva.
Além disso, o programa de intervenção inclui também a remoção de pessoas das áreas que estão mais poluídas.
“O próprio São Francisco já teve essa remoção na época da construção do Parque São Francisco. Essa retirada é uma atividade que a gente tem visão de trabalhar com isso, mas aí temos que buscar recursos fora para poder realizar”, diz Dalva.
Problema de décadas
O secretário Aberson Carvalho fala que este é um problema que se arrasta há décadas e que para ser solucionado também requer ações a curto e longo prazo. Ele fala que na década de 90 a situação esteve pior.
“Já foram feitos diversos trabalhos de tentar recuperar, até de tirar moradores, plantação de árvores às margens. Já foi feito um trabalho e não resolveu, porque o maior problema do Igarapé, além dos resíduos que as pessoas jogam o lixo, é o esgoto, saneamento, então, a maioria dos nossos problemas está no saneamento. Não é só uma questão de estar com a APP comprometida”, pontua.
O secretário informa ainda que as ações do plano de mitigação envolvem não só a Prefeitura de Rio Branco que, no caso, não opera na solução do problema dos esgotos.
“Essa parte de esgoto a política não é da prefeitura, então, o que cabe a gente é uma limpeza, a fiscalização para não invasão, plantio das matas ciliares que são parte do nosso plano de mitigação”, explica.
Tratamento dos esgotos
O diretor-presidente do Departamento Estadual de Pavimentação e Saneamento do Acre (Depasa), Josenil Chaves, diz que o sistema de esgoto na capital não é suficiente.
Mas, segundo ele, com a revisão do Plano Diretor de Água e Esgoto de Rio Branco o sistema de tratamento deve chegar a pelo menos 70% da capital acreana e isso inclui ações no Igarapé São Francisco.
“É um problema grave que estamos trabalhando. Fizemos agora nosso projeto de tratar essas águas, nossos esgotos. Mas, que não vai ser do dia para a noite. Pode ser que leve mais de um ano para tratarmos aquilo que gostaríamos de tratar que é chegar a 70% do esgoto de Rio Branco tratado”, afirma Chaves.
O presidente do Depasa diz que são muitos pontos onde o esgoto chega in natura no igarapé.
Ela fala que no plano de ação está incluída a interligação do sistema de esgoto, que já está em andamento, com a construção de elevatórias.
Estação elevatória
A elevatória serve para bombear o esgoto para a parte alta e gerar um desnível até chegar à Estação de Tratamento de Esgoto (ETE). Hoje, em Rio Branco, são duas unidades em funcionamento, com capacidade para tratar o dobro do que é tratado atualmente.
As elevatórias devem desviar o curso do esgoto e tirar o despejo de dentro do igarapé.
“Temos que desviar para o nosso sistema, tratar e mandar para os nossos rios e igarapés. Mas, quanto a isso, vamos sofrer ainda um pouco com essa água chegando nos nossos mananciais. Mas, já começamos”, garante.
Chaves diz que os bairros Universitário, Tucumã, Manoel Julião já possuem elevatórias, o tratamento está sendo feito e o sistema vai funcionar.