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Ligações clandestinas levam esgoto e poluição para o rio Amazonas

Ambientalistas estão preocupados com a quantidade de esgoto despejada no rio Amazonas na região de Macapá. A Companhia de Água e Esgotos do Amapá (Caesa) constatou que ligações clandestinas na rede de drenagem pluvial levam o esgoto sem tratamento para o rio, já contaminado também pelo acúmulo de lixo. Como chega através dessas ligações irregulares, as autoridades ainda não conseguiram sequer estimar a quantidade de esgoto despejada no rio, que já mostra sinais de poluição. E essa água, do Amazonas, é a mesma distribuída para o consumo da população de Macapá – após passar por tratamento.

O presidente da Caesa, Ruy Smith Neves, afirmou ao G1 que apenas 3% da população é servida por rede de coleta de esgoto em Macapá. O restante da população utiliza fossas domésticas. Segundo a Caesa, atualmente, estão sendo elaborados projetos para ampliar a rede de esgoto de Macapá e de Santana (AP), com o custo de R$ 15 milhões, para tentar verificar se o sistema de esgoto pode ser melhorado. Não há data para terminar o projeto.

Ainda segundo Neves, todo o esgoto recolhido da capital passa por tratamento. “No nosso sistema de esgoto, ele vai para a bacia de decantação do bairro Pedrinhas [Zona Sul da capital]. O esgoto despejado no rio é levado a partir de ligações clandestinas feitas pela população“, afirmou.

Apesar da água do rio Amazonas ser captada para o consumo dos moradores de Macapá, ela passa antes por um processo de tratamento rigoroso. “A Caesa capta água a 450 metros da costa, mas o tratamento é feito de forma mais aprofundada por causa dessas condições. O esgoto acaba indo para onde não estava previsto“, afirmou Neves.

Cheiro espanta
Para ir ao trabalho, o autônomo João Menezes, de 59 anos, disse que passa todos os dias na orla do rio Amazonas, no bairro Santa Inês, Zona Sul de Macapá. O morador afirma que também está preocupado com a condição das águas.
Eu moro aqui desde quando eu nasci e sempre achei o rio bonito, mas ao longo do tempo, a poluição apenas aumentou. Acredito que isso é falta de compromisso com os nossos governantes em relação a um dos poucos cartões postais de Macapá“, lamentou o autônomo.

A servente Regina Helena, de 55 anos, também reclamou da poluição. “Eu passo por aqui todos os dias há 15 anos e a situação do rio Amazonas está pior com o passar do tempo. Acho que deveriam tratar melhor o rio para não passar uma imagem ruim às pessoas que vêm de fora do estado visitar a orla. Atualmente, o cheiro espanta muita gente“, reforçou a servente que trabalha em uma escola próximo a orla do bairro Araxá, na Zona Sul de Macapá.

Cor da água indica poluição
O laboratório da Caesa possui uma tabela para avaliar a intensidade da cor da água captada no rio Amazonas e, assim, verificar a poluição. Quando a cor varia dentro de um limite estabelecido pela Caesa, a água é classificada como estável. Contudo, segundo o engenheiro químico da companhia Birailson Palmeira, o grau de intensidade da coloração ultrapassa os limites estabelecidos pela empresa durante o período chuvoso, o que indica água mais poluída.

O aumento na coloração decorre do crescimento no número de resíduos que chegam ao rio através das chuvas, ressalta o engenheiro químico. “Temos equipamentos suficientes para garantir que as etapas de floculação, decantação, filtração e esterilização [processos de tratamento da água] sejam cumpridas com êxito. Só em Macapá, seis estações de tratamento atendem à população. A estação localizada no bairro Trem concentra 90% do produto que é consumido pelos macapaenses”, disse.

Palmeira acrescentou que toda a água retida pela adutora “tem valor de PH classificado como o ideal para consumo”. Durante o verão, a limpeza das estações é realizada pelo menos uma vez a cada 30 dias, porém, no período em que há maior concentração de resíduos a limpeza acontece a cada 20 dias. “A retenção da água é feita através de um sistema que tem de se adaptar às diferentes épocas do ano”, ressalta.

ONG quer entrar na Justiça
A organização não-governamental Instituto Amigos em Ação considera ter sido de uma “irresponsabilidade imensurável” deixar o rio chegar nessas condições. O presidente da instituição, Almeida Junior, afirmou que os governos do estado e da capital devem responder pela poluição.

A prefeitura de Macapá [deve responder] em relação ao lixo, e a Caesa, quanto ao esgoto despejado no rio. Lixo e esgoto são os dois maiores poluidores“, apontou, acrescentando que a organização prepara uma ação para ingressar no Ministério Público responsabilizando a prefeitura e o estado pelo impacto do lixo acumulado e do esgoto no rio. “O nosso cartão postal está deixando de atrair visitantes, é um xeque-mate no ecoturismo do estado“, lamentou.

A organização não-governamental Movimento Verde Vivo também aponta o esgoto como o principal causador da poluição do rio Amazonas. Para Mamed Siqueira, presidente da ONG e membro do Conselho Estadual de Meio Ambiente (Coema), as consequências da poluição deverão atingir espécies que vivem no rio Amazonas. “Os primeiros impactos da poluição vão atingir os peixes, porque eles não comem plásticos”, frisou o ambientalista.

Desequilíbrio ambiental
Além do mau cheiro, a poluição do rio já mostrou consequências de desequilíbrio ambiental, a exemplo do aumento desordenado do número de peixes da espécie Carataí na orla de Macapá. O animal chegou a ferir pessoas que utilizam o rio Amazonas para praticar esportes.

Para o Instituto de Pesquisas Científicas do Amapá (Iepa), o acúmulo de lixo nas margens do rio é o principal atrativo ao peixe. “É uma espécie que sempre esteve em abundância. Mas pode se concentrar ainda mais quando é atraída por esses elementos”, explicou o biólogo do Iepa Maurício Abidon.

Para o ambientalista Almeida Júnior, o poder público deve fazer alterações no manejo do lixo e esgoto em Macapá.
Os bairros da orla devem ter uma coleta de lixo exemplar, de forma seletiva. A Caesa precisa dar prioridade à rede de esgoto desses locais para que não utilizem as galerias pluviais que despejam dejetos no rio Amazonas“, sugeriu Almeida Júnior.

Lixo
A limpeza da margem do rio Amazonas é de responsabilidade da prefeitura de Macapá. O G1 procurou o município para falar sobre o assunto, mas não houve resposta.

Fonte: G1
Veja mais: http://g1.globo.com/ap/amapa/noticia/2014/02/ligacoes-clandestinas-levam-esgoto-e-poluicao-para-o-rio-amazonas.html

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