Usina SC Matéria Prima
Por: Fernanda Silva
Que os lixos urbanos, gerados em casas e comércios, vão inicialmente para a reciclagem e aterros sanitários todos sabem, mas e o que acontece com os entulhos que sobram da construção civil, os chamados Resíduos de Construção e Demolição (RCD)? Em Florianópolis, há um programa voltado aos pequenos volumes de construção civil.
Nove ecopontos espalhados pela capital catarinense recebem resíduos de construção de até um metro cúbico. Os entulhos recebidos nestes locais são destinados a três empresas privadas de reciclagem que trabalham com valorização dos entulhos.
Nestas indústrias, o material é triturado e transformado em agregado reciclado para uso na construção civil. A reportagem entrou em contato com as três empresas que transformam os RCDs de Florianópolis em agregados para detalhar o processo, mas não obteve resposta de nenhuma delas até o fechamento desta matéria.
O Instituto do Meio Ambiente (IMA) explica que alguns produtos residuais da demolição podem ser reciclados, entre eles o concreto, tijolos, cerâmicas, madeiras, metais, plásticos, vidros e gessos.
Conforme o IMA, após a coleta, os RCDs são separados por tipo de material, em seguida, triturados ou moídos em equipamentos apropriados, como britadores e moinhos, para reduzir o tamanho dos resíduos.
Infográfico mostra como ocorre a reciclagem do entulho

“Na unidade de reciclagem, o concreto é triturado em pedaços menores, utilizando equipamentos como britadores. Isso facilita o manuseio e a separação de diferentes materiais. Após a fragmentação, são utilizados sistemas de triagem para separar o concreto reciclado de outros materiais, como metais, plásticos e resíduos orgânicos. Após, o concreto reciclado é classificado em diferentes tamanhos, dependendo da aplicação desejada. Pode ser utilizado como agregado em novas misturas de concreto ou em pavimentações”, explica o IMA sobre o processo de reciclagem deste material.
A transformação dos resíduos de construção civil em agregados pode trazer diversos benefícios e a economia gerada pode variar bastante dependendo de vários fatores, incluindo o tipo de material, a escala da obra e a região.
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Um dos pontos positivos é a utilização destes itens reciclados como agregados, isso porque a redução dos custos de compra de novos materiais pode ser de 20% a 50%, dependendo do mercado local e da disponibilidade. Além disso, materiais reciclados costumam estar disponíveis em locais de demolição, o que pode reduzir os custos de transporte em comparação com a extração e o transporte de matérias-primas virgens.
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A reciclagem também reduz a quantidade de resíduos que precisa ser descartada, resultando em menores custos de disposição em aterros sanitários. Outro benefício é a redução de taxas ambientais, isso porque algumas regiões oferecem incentivos ou reduzem taxas para empresas que utilizam materiais reciclados, o que pode resultar em economias adicionais.
Agora, se os resíduos de construção não forem reciclados e forem enviados para aterros, eles podem causar vários danos ao meio ambiente ao longo dos anos, aponta o IMA. Um dos pontos que preocupam os órgãos ambientais e sanitários é a contaminação do solo e água. Resíduos de construção, especialmente aqueles que contêm materiais perigosos, podem gerar o chorume. O líquido pode se infiltrar no solo e contaminar os lençóis freáticos e corpos d’água próximos.
Há também preocupação com os materiais tóxicos como tintas, solventes e materiais que contêm amianto, que podem liberar substâncias tóxicas, afetando a qualidade da água e do solo. Neste caso, segundo o IMA, a destinação final segura pode ser o incinerador em instalações adequadas, pois permite a destruição controlada de substâncias perigosas, convertendo-as em gases inertes e cinzas. Ou, ainda, os aterros sanitários especializados que manipulam resíduos que não podem ser incinerados, como materiais com amianto, que devem ser descartados em aterros sanitários licenciados e preparados para receber resíduos perigosos. Esses aterros são projetados para evitar a contaminação do solo e da água.
A contaminação do solo e da água pode afetar a saúde das comunidades próximas, aumentando o risco de doenças e problemas de saúde relacionados à exposição a substâncias tóxicas. A ocupação de áreas para aterros pode destruir habitats naturais e ameaçar a fauna e flora local. A contaminação do solo e da água também pode afetar a biodiversidade ao redor do aterro, indica o IMA.
A reciclagem dos RCDs também é importante para evitar a liberação de gases como metano. Além disso, evitam que os aterros se tornem rapidamente saturados, levando à necessidade de novos locais para descarte. Isso pode causar pressão sobre áreas naturais e aumentar a distância de transporte dos resíduos, contribuindo para uma maior pegada de carbono.
Desafios da reciclagem de RCD
Os resíduos da construção e demolição (RCD) representam uma parte significativa dos resíduos sólidos urbanos tanto no Brasil quanto em Santa Catarina. Segundo o “Diagnóstico dos Resíduos Sólidos no Brasil” da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), os resíduos da construção civil podem representar entre 50% e 70% do total dos resíduos sólidos urbanos gerados nas grandes cidades. Em algumas regiões, essa proporção pode ser ainda maior, dependendo do nível de urbanização e atividade da construção civil.
Em Santa Catarina, a participação dos resíduos de construção e demolição nos resíduos sólidos urbanos é semelhante à média nacional, indica o IMA. Em algumas cidades, estima-se que os RCDs representem cerca de 50% a 60% do total dos resíduos sólidos gerados. Um estudo realizado pela prefeitura de Florianópolis indicou que os resíduos de construção civil representam aproximadamente 60% do total dos resíduos sólidos urbanos.
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Segundo o IMA, há alguns fatores que dificultam o reaproveitamento dos resíduos de construção e demolição. Entre os principais problemas enfrentados por SC está a falta de Infraestrutura para a coleta, triagem e reciclagem, que muitas vezes é insuficiente. Muitas cidades não têm instalações adequadas para processar grandes volumes de materiais recicláveis.
O custo associado ao processamento e à triagem dos resíduos recicláveis pode ser alto, especialmente em projetos de menor escala, o que pode desestimular a reciclagem. A ausência de regulamentações claras e normativas sobre a utilização de materiais reciclados pode dificultar a adoção dessas práticas.
Muitos empreendedores hesitam em utilizar materiais reciclados devido à incerteza sobre a qualidade e a aceitação. A logística para a coleta e transporte de resíduos recicláveis pode ser complicada e custosa, especialmente em áreas urbanas densas ou em locais de difícil acesso, trazendo uma resistência quanto à reciclagem.
Também há a questão da qualidade dos materiais reciclados, já que em alguns casos, os materiais reciclados podem não atender aos padrões de qualidade necessários para determinados projetos de construção, limitando sua aplicação, afirma o IMA. Outro ponto é a concorrência com materiais novos, que muitas vezes são mais baratos e considerados de melhor qualidade, o que pode desincentivar o uso de materiais reciclados.
Reciclagem
Por fim, a falta de informação e conscientização sobre a importância da reciclagem e as práticas adequadas para descarte de resíduos ainda é um desafio. Muitos profissionais da construção e cidadãos desconhecem as alternativas de reciclagem. Além disso, embora algumas cidades tenham implementado políticas de gestão de resíduos, a falta de uma abordagem mais integrada e consistente em todo o estado pode dificultar o avanço da reciclagem.
Inclusive, em geral, a reciclagem de resíduos da construção civil no Brasil é inferior à de muitos países europeus, ainda que as taxas variem bastante entre diferentes estados e municípios, mas, em geral, a reciclagem no Brasil é inferior à de muitos países europeus. Estudos indicam que as taxas de reciclagem podem variar entre 30% e 50% em algumas áreas, com uma média nacional mais baixa.
A Alemanha é um dos líderes mundiais em reciclagem, com taxas que superam 80% para resíduos de construção e demolição. A Suécia também apresenta taxas elevadas de reciclagem, com uma forte ênfase em sustentabilidade. Já a França tem programas robustos que promovem a reciclagem, com taxas em torno de 60-70%. A Holanda, conhecida por suas práticas avançadas de gestão de resíduos, alcança taxas de reciclagem acima de 80%. O Reino Unido tem avançado significativamente, com taxas que variam de 50% a 70%, dependendo da região.
Seguindo a tendência de melhorar essas taxas, Santa Catarina tem implementado políticas para aumentar a reciclagem de RCD. Conforme o IMA, algumas cidades do estado, como Joinville e Florianópolis, têm alcançado taxas de reciclagem que variam de 40% a 60%.
Entre as iniciativas do Estado para melhorar a eficácia e inovação na gestão de resíduos da construção civil, entre eles os Planos de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil (PGRCC), criação de Pontos de Entrega Voluntária (PEVs) , incentivos fiscais e subsídios para empreendimentos que utilizam materiais reciclados ou que demonstram práticas eficazes de gestão de resíduos, educação e capacitação para profissionais da construção, Parcerias Público-Privadas (PPP), apoio a inovações e tecnologias sustentáveis na área de reciclagem.
Fonte: NSC.