Sabesp terá de fazer ajustes para enfrentar momento mais difícil

O avanço do processo de revisão tarifária tem sido um alento à Sabesp, que vem enfrentando problemas e se vendo obrigada a se ajustar a uma nova realidade, bem mais difícil.

Em um ano de eleições, a empresa terá de aplicar um reajuste tarifário, o que pode ser mal interpretado pela população. Além disso, a companhia enfrenta o problema da falta de chuvas no reservatório Cantareira e começa a se preparar para lidar com as consequências da crise hidrológica.

Apesar de descartar a possibilidade de racionamento, a companhia terá de ajustar suas contas ao novo cenário. Para isso, deverá fazer ajustes internos para compensar de alguma forma a queda de receitas por causa dos descontos dados aos consumidores que reduzem o gasto de água.

Rui Affonso, diretor financeiro e de relações com investidores da Sabesp, descartou a possibilidade de reduzir o pagamento de dividendos a acionistas. Mas disse que a companhia poderá ter de cortar despesas. “Vamos tomar medidas diante de uma situação anômala. É o que se faz quando se tem queda de receita, como medidas de contenção de despesas”, afirmou o executivo.

A Sabesp também pode ter de recorrer a ajustes no seu plano de negócios. Caso o processo de revisão tarifária da empresa termine com uma taxa de reajuste baixa, a empresa pode não ter receitas suficientes para seus investimentos. “Ao longo do ciclo, poderemos fazer ajustes no plano de negócios para nos ajustarmos ao preço”, afirmou o diretor da empresa. A empresa tem um plano de investimentos de R$ 2,5 bilhões ao ano e tem como uma meta a universalização do acesso à água e ao esgoto nas regiões em que opera.

Em sua primeira sugestão de tarifa, a Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo (Arsesp) apresentou, no mês passado, um valor de 4,66% para a chamada P0 (preço médio máximo inicial), que é o teto que a empresa poderá praticar em seus reajustes anuais em seu ciclo tarifário, com duração de cinco anos. Affonso não disse qual a taxa que a Sabesp gostaria de obter, mas disse que não trabalha mais com a expectativa de um reajuste de tarifas de 13%, que havia sido o último número citado pela empresa, no ano passado.

Segundo ele, a revisão tarifária é um processo dinâmico e diversos fatores mudaram nos últimos anos e nos últimos meses. “Os 13% não são um dogma. Foi um resultado de cálculos que fizemos lá atrás. De lá para cá, temos uma nova base de ativos mais esmiuçada”, afirmou. Hoje, o maior ponto de divergência entre a Sabesp e a Arsesp é justamente a base de ativos que é considerada nas contas para a definição da taxa, diz Affonso. Enquanto a agência considera um valor a R$ 23 bilhões, a Sabesp contabiliza um valor de R$ 30 bilhões.

E mesmo que a Arsesp divulgue ao fim do processo uma taxa definitiva superior aos 4,66%, pode ser que a Sabesp não consiga repassar o reajuste total, diante de um momento político mais delicado. Affonso disse que assim que a Arsesp publicar o valor final, a empresa vai avaliar as condições estruturais e conjunturais para decidir se aplicará 100% da tarifa autorizada.

“Temos uma situação de crise conjuntural hidrológica grave, que não é privilégio da Sabesp e acontece em várias regiões”, afirmou. Em relação a alguma influência do Clima político para a decisão da aplicação do reajuste, considerando que o ano é de eleições, Affonso disse que a empresa vai “sobrepesar” o momento. Ele falou com jornalistas ontem, em São Paulo, após a audiência pública para discutir a revisão tarifária da Sabesp.

O processo tem término previsto para 10 de abril e não será adiado novamente, segundo a Arsesp. No momento, está aberta até 19 de março a consulta pública para quem quiser mandar contribuições para o processo. Até o dia 10 de abril a agência vai avaliar todo o material recebido e, nessa data, publicará a tarifa definitiva para a Sabesp.

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