Documento determina prazo de 15 dias para companhia dar explicações sobre suposta “cobrança indevida”. Clientes sofrem com aumento nas contas após cortes de água
O Ministério Público de São Paulo instaurou um inquérito civil para investigar a suposta cobrança por ar nos canos da Sabesp. Como o iG revelou, clientes da companhia alegaram um significativo aumento nas contas após a manobra de redução de pressão e corte de abastecimento, adotados pela empresa durante a crise hídrica de São Paulo.
O documento assinado pelo promotor Gilberto Nonaka determina o prazo de 15 dias para a Sabesp dar explicações sobre o ocorrido e cobra ainda informações sobre as empresas que fornecem hidrômetros para a companhia. O iG informou na sexta-feira (20) que a possibilidade de que o cliente acabe pagando por ar é real.
“Tem ar sim [na rede de abastecimento] e aumenta a conta da população”, disse um técnico da Sabesp, que pediu para não ser identificado. “Como não está tendo água, as contas estão disparando [por causa do ar].”
Nonaka alega em sua decisão que o objetivo é verificar se estão ocorrendo “cobranças indevidas” pelo ar que passa no cano e é capaz de girar o hidrômetro.
“Em síntese relatam os representantes que, em razão do fornecimento intermitente de água, há o acúmulo de ar na tubulação. Quando o fornecimento de água está para ser normalizado, grande volume de ar passa pelo hidrômetro que é cobrado pela empresa investigada como se fosse água potável”, afirma. E continua: “Isso conduz o consumidor a não conseguir atingir a meta de redução proposta pela investigada”. O promotor encerra dizendo que se necessário poderá mover uma ação civil pública.
Procurada, a Sabesp disse por meio de nota que fornecerá as informações ao MP “no momento em que for solicitada”. O órgão disse ainda que “diversos testes realizados” indicaram que a quantidade do ar que chega ao hidrômetro “é insignificante e não representa diferença na conta mensal” dos clientes.
Bloqueadores de ar
A Sabesp tem instalado uma espécie de bloqueador de ar nos medidores de seus clientes. O objetivo é impedir que, quando falta água, situação relatada por 71% dos paulistanos, o relógio gire para trás. A companhia nega a prática.
A filha do serralheiro Ademir (que pediu para ter seu sobrenome preservado) filmou o momento em que o hidrômetro, como é chamado o medidor de água, girava para trás, há algumas semanas. Em seguida, uma equipe da Sabesp esteve na casa dele para instalar um pequeno equipamento no cavalete, conta o morador.
“Dois dias depois estavam aí para verificar”, diz Ademir, que vive em um bairro na periferia de São Paulo onde, segundo ele, o abastecimento tem sido cortado das 19h às 13h do dia seguinte.
A instalação desse equipamento foi confirmada por um técnico da companhia, que pediu anonimato por medo de represálias, e seria feita às escondidas do cliente. “A gente é proibido de falar para o consumidor que estamos instalando. O que a gente fala para o cliente? Fala que esta trocando o lacre”, conta o técnico.
O equipamento, entretanto, não impede o hidrômetro gire para a frente e eleve artificialmente o consumo de água, como denunciam alguns clientes ouvidos pela reportagem.
Moradora da Vila Ema, bairro da periferia da zona leste de São Paulo, Emília Romiti viu sua conta saltar de R$ 150,91 em dezembro para R$ 301,82 em janeiro. “Fiz um filme [do hidrômetro contabilizando ar] e vou levar para eles. Quando falta água é que isso acontece”, conta a dona de casa.
Fonte: Ig Notícias